quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Enfim, um Ministro que não se intimida com baixarias




Na sessão mais tensa do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do chamado “mensalão”, o ministro revisor Ricardo Lewandowski votou nesta quarta-feira 26 pela condenação dos ex-deputados Roberto Jefferson (PTB), delator do escândalo, José Borba (PMDB) e Romeu Queiroz (PTB) por corrupção passiva, absolvendo-os do crime de lavagem de dinheiro. O magistrado considerou não haver provas sobre a culpa de Emerson Palmieri, integrante da Executiva nacional do PTB, em todas as acusações, despertando uma série de conflitos com o relator do caso, Joaquim Barbosa.

Barbosa se disse afrontado pela afirmação do revisor de que não estava confiante sobre a culpa de Palmieri, demonstrada, segundo ele, em seu voto. “Nós, como ministros do STF, não podemos fazer vista grossa das situações”, disse. Os termos usados por Barbosa incomodaram os demais ministros. Lewandowski chegou a sugerir que o relator peça ao colegiado a retirada da figura do revisor das ações penais.

O ministro Marco Aurélio saiu em defesa do revisor dizendo que ninguém faz vista grossa no STF. “Cuidado com suas palavras. Vamos respeitar os colegas. Agressividade não tem lugar nesse plenário”, disse. E pediu que o colega escolhesse bem suas afirmações. “Sou responsável pelas minhas palavras”, retrucou.

Barbosa considerou “heterodoxo” Lewandowski “ficar medindo tamanho do voto do relator para replicar do mesmo tamanho”, o que também indignou o revisor. Por fim, pediu que o colega distribua seus votos por escrito para que ele possa rebatê-lo quando necessário. Barbosa já havia feito o pedido mais cedo, alegando que a recusa em distribuir o voto prejudica a transparência do julgamento. O comentário provocou nova reação de Lewandowski: “Não será Vossa Excelência que dirá o que eu tenho o que fazer. Cumprirei meu dever. Por favor, não me dê conselho. Eu não divirjo pelo simples prazer de divergir”.

Jefferson condenado

Segundo o ministro revisor, ficou comprovado o acordo para o repasse de 20 milhões de reais do PT ao PTB para que o partido supostamente financiasse campanhas municipais em todo o Brasil em 2004. Do acordo, a legenda recebeu apenas cerca de 4 milhões, não contabilizados. “Os repasses ficaram na ilegalidade e o partido se valeu de mecanismos escusos como maletas repletas de dinheiro e saques por meio de terceiros, sem que jamais tenha ficado claro o real destinatário do numerário.” Lewandowski destacou que Jefferson confessou ter recebido 4 milhões de reais em espécie diretamente do publicitário Marcos Valério, em parcelas de 2,2 milhões e 1,8 milhões em 2004. “Nas duas oportunidades, Valério trouxe o dinheiro e as cédulas estavam envoltas em fitas do Banco do Brasil e do Banco Rural.”

Ao dizer que o dinheiro pode ter sido usado para financiamento de campanha, Lewandowski diverge de Barbosa e do Ministério Público Federal, para os quais houve compra de apoio político.



Para o revisor, depoimentos de Emerson Palmieri confirmam a não contabilização dos recursos dados ao PTB, a existência do acordo com o PT e o recebimento dos valores diretamente do publicitário. “Em uma das ocasiões Jefferson e Valério estavam no PTB em Brasília quando Palmieri entrou na sala, o valor já estava sob a mesa.” Jefferson, ressaltou Lewandowski, mostrou-se sabedor de que a soma poderia não ser lícita. “Ele disse que tinha a impressão de que eram recursos do PT e confiava que o partido fosse legalizá-lo. Dinheiro de eleição nunca é totalmente declarado, afirmou.”

De acordo com o ministro, Jefferson assumiu a responsabilidade pelo repasse e recusou-se a informar o destino dos valores. “Ele assumiu sua participação em todos os eventos apontados pela acusação, que produziu as provas de sua conduta”, disse. “O réu recebeu elevadíssima soma de dinheiro em espécie em pessoa ou por intermédio para o seu partido, não podendo se excluir que tenha usado o valor em proveito próprio.” A outra forma de repasse, também comandada pelo ex-deputado, ocorreu por meio de Alexandre Chaves. Ele recebeu em Belo Horizonte 145 mil reais solicitados a Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, para repassar a um publicitário que prestava serviços ao partido com o qual havia um débito de 520 mil reais.

Chaves também sacou 200 mil reais para sua filha Patrícia, que mantinha um romance com o ex-presidente do PTB José Carlos Martinez, morto em um acidente de avião. O dinheiro foi solicitado por Jefferson para dar suporte à mulher, que comprou um apartamento em Brasília com o valor. Além das provas testemunhais, há comprovantes dos saques realizados por Simone Vasconcelos, funcionária de Valério, e repassados a Chaves com as assinaturas de ambos. “Há elementos suficientes que confirmam a acusação da transferência destes valores por intermédio de Jefferson.”

O ministro destacou também que 200 mil reais foram recebidos pelo coordenador do PTB-MG José Hertz em Belo Horizonte nas agências do Banco Rural e Banco do Brasil. O dinheiro foi trazido de avião a Brasília e entregue a Emerson Palmieri. “Esta comprovada a materialidade dos saques e a interveniência de Jefferson, que usou Palmieri e Romeu Queiroz.” Jefferson foi absolvido da acusação de lavagem de dinheiro por ser um incurso do crime anterior, não havendo “um segundo conjunto de fatos que poderiam caracterizar a lavagem.” A lógica foi a mesma usada por Lewandowski ao analisar outros réus do “mensalão”.

Revisor absolve Palmieri

O clima ficou tenso na corte quando Lewandowski começou a analisar a conduta de Palmieri. Para o revisor, o saque no valor de 50 mil reais vindos do PT por meio de Valério, realizado por Hertz em Belo Horizonte, foi ordenado por Queiroz e não Palmieri. O ministro ressaltou que Hertz trouxe o valor a Brasília, sem provas de que o dinheiro foi recebido no aeroporto por Palmieri. “Ele o implicou de forma confusa, mas foi categórico ao dizer que recebeu a ordem de saque de Queiroz.”

De acordo com o ministro, não é possível considerar o depoimento da testemunha devido a suas diversas contradições. “Primeiro diz que as ordens de saque vieram de Palmieri porque Queiroz estava viajando à época. Depois alega que veio de Queiroz.” Por outro lado, prossegue, Palmieri nega ter recebido os valores. “Há recibo de que um motoboy recebeu a soma e surpreendentemente ele não foi ouvido nos autos para saber quem era o destinatário.” Lewandowski trouxe uma série de depoimentos para demonstrar que o réu não teria função relacionada às finanças no PTB, sendo apenas um articulador político e secretário nacional da legenda. Por isso, não teria relação com os saques.

Segundo o revisor, o mesmo raciocínio pode ser aplicado a outros dois pagamentos na gestão de Martinez, sacados pelo motorista Jair dos Santos. Um deles ocorreu com caixa forte em Brasília, todos a pedido do ex-presidente do PTB. “Ele disse que entregou tudo a Martinez. Não há relação com Palmieri.” Mas, o revisor deixou a cargo dos demais colegas considerar um depoimento no qual Simone Vasconcelos cita pessoas a quem teria entregue dinheiro, entre elas Palmieri.

Sobre os saques de 145 mil reais e 200 mil reais realizado por Chaves, o ministro sustentou que os pedidos foram feitos por Jefferson, tendo Palmieri apenas orientado o sacador a procurar Delúbio Soares. “O réu o fez sob ordens de Jefferson, que assume a responsabilidade.”

Em outro episódio, envolvendo a entrega de 200 mil reais levantados por Queiroz na sede do PTB em Brasília o ministro também diz não haver provas contra o réu. Segundo o magistrado, Hertz levou o valor ao partido e entregou o recurso a Palmieri no meio de uma reunião. “Ele ficou surpreso, disse que não poderia receber a doação sem recibo e que o dinheiro tinha quer legalizado.” Por isso, levou o valor aos cuidados de Roberto Jefferson, que disse que tomaria conta do caso. A versão foi confirmada por um jovem com o qual fazia a reunião.

O ministro também refutou a participação de Palmieri em uma viagem para Portugal, acompanhado de Valério e Rogério Tolentino, na Portugal Telecom. A reunião  com o presidente da emnpresa teria, segundo a acusação, ocorrido para que fossem levantados os 16 milhões de reais restantes do acordo do PT com o PTB. “Não é possível deduzir que a finalidade era essa, pois algumas testemunhas estão em colisão com as outras o que muitas vezes invalida as provas.”
De acordo com o  magistrado, Valério se reuniu sozinho com o presidente do órgão e Palmieri ficou em uma antessala, tendo um papel secundário na viagem. “Valério tinha a intenção de negociar com a empresa a manutenção da SMP&B como agência da Telemig, que seria comprada pela Telecom.”

PMDB

Lewandowski alegou ter ficado comprovada a corrupção passiva de José Borba devido ao fato de o réu ter recebido 200 mil reais a mando de Soares, por meio de um esquema montado por Valério.

O revisor destacou, no entanto, que não entendeu ter ficado comprovado que Borba recebeu o dinheiro para votar em favor das reformas tributária e da Previdência, conforme aponta a denúncia do Ministério Público Federal. “Não há prova documental ou testemunhal disto, mas ficou decidido pela corte que para a corrupção passiva não se faz necessária a identificação do ato de ofício, basta o recebimento da vantagem indevida e isso ficou provado.”

À época dos fatos, Borba era deputado federal e líder do PMDB na Câmara. O parlamentear recebeu o montante em uma agência do Banco Rural em Brasília, por meio de Simone Vasconcelos, funcionária de Valério, porque se recusou a assinar um comprovante de saque e deixar uma cópia de sua identidade na instituição financeira. “Os depoimentos demonstram que Simone Vasconcelos sacou o valor no banco em espécie e o entregou ao réu, após se locomover pessoalmente à agência depois da negativa de assinar o recibo pelo réu.”

O ministro ressaltou que o tesoureiro do banco em Brasília, José Francisco de Almeida Rego, entrou em contato com a agência em Belo Horizonte após a posição do deputado. Foi informado de que uma pessoa iria à agência resolver o problema e que fax em nome de Borba reveria ser rasgado porque uma nova autorização de saque seria enviada para Vasconcelos. “Simone Vasconcelos chegou à agência naquele mesmo dia após o fim do expediente comum, realizou o saque e entregou ao deputado, que aguardava no local.”

Lewandowski entendeu não haver lavagem de dinheiro por parte do ex-parlamentar. “O recebimento de vantagem indevida oculta é elementar de corrupção passiva. Não há ninguém que receba propina e o faça a luz do dia, ninguém passa recibo de corrupção”, disse. A tese do ministro, já utilizada para absolver outros réus, abriu uma discussão entre os ministros sobre o tema. Os magistrados buscam um entendimento sobre se é possível haver crime de lavagem em todos os casos em que se tem corrupção passiva.

Fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/enfim-um-ministro-que-nao-se-intimida-com-baixarias#comments

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O manifesto dos intelectuais em defesa de Dirceu



Por Webster Franklin
 
Do Brasil 247

Intelectuais assinam manifesto pró-Dirceu

Com assinaturas coletadas pelo cineasta Luís Carlos Barreto, texto a ser encaminhado ao STF pede que não seja feito prejulgamento e tem assinaturas de personalidades como Oscar Niemeyer, Alceu Valença, Bresser Pereira, Emir Sader e Eric Nepomuceno

247 – O ex-ministro José Dirceu, que será julgado na semana que antecede as eleições de 7 de outubro, conta com um pequeno trunfo: um manifesto de intelectuais, que será encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, cujo teor pede que não se faça prejulgamento na Ação Penal 470.

Com cerca de 200 adesões até agora e assinaturas coletadas pelo cineasta Luís Carlos Barreto, o manifesto conta com personalidades como o arquiteto Oscar Niemeyer, o músico Alceu Valença, o economista Bresser Pereira e os escritores Emir Sader e Eric Nepomuceno

Niemeyer diz que assinou o texto porque enxerga uma campanha organizada contra Dirceu. “Um exagero”, diz ele.

Em relação ao STF, é pouco provável que o manifesto tenha qualquer peso em relação à decisão dos ministros, mas, ao menos, servirá para conferir um caráter político à eventual condenação de Dirceu.

Fonte:  http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-manifesto-dos-intelectuais-em-defesa-de-dirceu

sábado, 22 de setembro de 2012

“Oposição quer fazer com Lula o que fez com Getúlio e Jango”, diz ex-ministro da Defesa Waldir Pires

“Oposição quer fazer com Lula o que fez com Getúlio e Jango”, diz ex-ministro da Defesa Waldir Pires
Nesta quinta-feira, 20, seis partidos de sustentação do governo Dilma (PT, PMDB, PSB, PDT, PC do B e PRB), em nota pública, acusaram a oposição de estar "disposta a qualquer aventura" e a "práticas golpistas". Segundo a nota, "em defesa da honra e dignidade" do ex-presidente Lula, assinada pelos presidentes dos seis partidos, "assim foi em 1954, quando inventaram um 'mar de lama' para afastar Getúlio Vargas" e "assim foi em 1964, quando derrubaram Jango para levar o País a uma ditadura de 21 anos". Para uma reflexão sobre o momento, e o passado, Terra Magazine foi ouvir alguém com idade, história e autoridade para tanto.
Entre os dias 31 de Março e 1 de Abril de 1964, um golpe militar derrubou o governo João Goulart, o Jango. Dois funcionários foram os últimos a deixar o Palácio do Planalto depois do golpe. Um deles, o chefe da Casa Civil, Darcy Ribeiro. O outro, o Consultor-Geral da República, Waldir Pires. Ex-secretário de Estado, deputado estadual e federal, governador e senador, criador da Controladoria-Geral da União e ex-ministro da Defesa no governo Lula, Waldir Pires, aos 85 anos, é candidato a vereador pelo PT em Salvador. Na conversa que se segue, Waldir Pires discorre sobre o que já viveu e as relações ou semelhanças com o momento. Em um trecho da conversa, o ex- ministro da Defesa diz:
- Vamos ser claros: a oposição quer fazer com Lula o mesmo que fez com Getúlio Vargas e com Jango…até as expressões que usam são as mesmas, "mar de lama" é uma delas…
Em outro momento, avança:
- Eu já vi e vivi esse filme antes, e há amarras extraordinariamente suspeitas em tudo isso… o cheiro é o mesmo…
Abaixo, a entrevista.
Terra Magazine: Onde o senhor estava no dia do golpe que levou à ditadura em 1964?
Waldir Pires: Em Brasília, no Palácio do Planalto. Eu era o Consultor Geral da República… eu e o Darcy Ribeiro, Chefe da Casa Civil, fomos os últimos a deixar o Palácio quando derrubaram o presidente João Goulart, o Jango..
Seis partidos, PT, PMDB, PSB, PDT, PC do B e PRB, todos de sustentação ao governo Dilma, assinaram e lançaram uma nota pública. Nesta nota, acusam os partidos de oposição, PSDB, DEM e PPS, de estarem "dispostos a qualquer aventura" e de "não hesitarem em práticas golpistas". O documento é apresentado em defesa "da honra e dignidade" do ex-presidente Lula…
…sim, eu tomei conhecimento da nota…
Como o senhor, aos 85 anos, tendo vivido o que já viveu e viu, vê esse momento?
Me parece evidente que a oposição, ao menos setores da oposição, estão agindo em relação ao ex-presidente Lula como um dia agiram em relação a Getúlio Vargas e João Goulart…
O senhor diria que já viu esse filme antes ou isso é um exagero dessa nota dos seis partidos?
Eu já vi e vivi esse filme antes, e há amarras extraordinariamente suspeitas em tudo isso…o cheiro é o mesmo…
Em que termos o senhor faz essa comparação?
Vamos ser claros: a oposição quer fazer com Lula o mesmo que fez com Getúlio Vargas e com Jango…até as expressões que usam são as mesmas, "mar de lama" é uma delas…
Mas não existiriam outros fatores objetivos no discurso da oposição? Assim como existem fatos que são objetos das críticas e denúncias e até do julgamento no Supremo…
Existem razões e fatos, mas o Brasil tem instituições funcionando e que são capazes de examinar os fatos sem que seja preciso pressão e a criação de um ambiente artificial. E diga-se que instituições fortalecidas exatamente durante os dois mandatos do governo Lula. Eu mesmo fui ministro-chefe da Controladoria-Geral da União que não existia até Lula. O governo Fernando Henrique tinha uma Corregedoria…
E qual a diferença?
A Controladoria fiscaliza e dá absoluta transparência a todos os gastos federais, está tudo na internet, cada centavo dos bilhões gastos pelo governo federal está no site. E mais. Tudo isso numa ação coordenada com o Ministério Público, no plano federal e nos Estados, com o Coaf, a Receita Federal, Polícia Federal…ora, quando falam no resultado disso, do aprofundamento das investigações nos casos de corrupção, como esquecem de dizer que isso, que essa coordenação de esforços, é obra exatamente dos governos de Lula e agora de Dilma?
Mas…
a montagem dessa teia de acessos às informações e absoluta transparência, que leva a sociedade a ter acesso às informações, é obra de Lula, do governo Lula. Como é possível ignorar isso, esconder essa informação enquanto, ao mesmo tempo, se valem das informações que esse sistema coordenado de fiscalização e transparência permite obter?
Isso foi decisão pessoal dele ou foi acontecendo?
Decisão pessoal dele. Quando o presidente me convidou para o Ministério da Defesa me preocupei se poderia haver alguma modificação na atuação da Controladoria…o presidente Lula não apenas me garantiu que não como manteve minha equipe, e Jorge Hage está até hoje à frente da equipe com resultados e um trabalho que não apenas o Brasil reconhece. A ONU, a OEA e outros organismos internacionais já reconheceram e deram destaque a esse trabalho modernizador no setor de controle e transparência de informações…
Voltemos ao momento…
Vejo esse momento com preocupação, com inquietação. É um erro, e mais do que isso, não condiz com a verdade esse ambiente de que vivemos num "mar de lama", que há "corrupção generalizada" desde o governo Lula…
Por que um erro?
Porque nossas instituições democráticas ainda são frágeis…porque isso não é verdade…a transparência, o acesso às informações, a atuação do Ministério Público, da Polícia Federal, a atuação conjunta nos últimos anos e os resultados disso mostram que esse ambiente desejado por certos setores é irreal, não é verdadeiro…o que há é que agora, depois de séculos, as informações, pela primeira vez na história, vêm a público…
O que lhe preocupa?
Me preocupa… há uma tendência nos últimos anos…os setores conservadores, ao invés de articularem golpes militares, agora dão golpes parlamentares… como se viu em Honduras, como se viu há pouco no Paraguai, e isso é precedido pela fomentação de um ambiente adequado para esses golpes parlamentares…
O que o senhor, objetivamente, detecta nessa "ambientação"…
A generalização, o procurar atingir os adversários a esse nível que estão fazendo e como estão fazendo ao invés do enfrentamento político democrático, enfrentamento com críticas duras, críticas e denúncias severas e tudo o mais, mas não com a criação de um ambiente artificial, e ainda mais quando isso parte dos setores de onde isso tem partido…
Ou seja…
Setores com figuras, instituições que construíram fortunas incalculáveis, que estão aí, e sem que nada ou quase nada fosse dito ou apurado… alguns desses personagens até já se foram e deixaram fortunas, até porque não existiam os mecanismos de fiscalização e transparência de agora, mas outros, bem mais recentes, estão por aí…como é possível querer que se acredite que a "corrupção nasceu ou cresceu" nos últimos anos, se foi exatamente nos governos de Lula e Dilma que iniciou o combate verdadeiro e eficaz, combate articulado e com o resultados que se conhece…isso é irreal e é uma farsa…
Por que irreal e…
É irreal fazer de conta que a corrupção é algo apenas "atual", é irreal fazer de conta que não se conhece os fatos conhecidos, do passado distante e também do passado recente… é uma farsa desconhecer a história do mundo e do Brasil, e desconhecer o combate que vem sendo travado exatamente desde a consolidação de todos esses mecanismos de controle e transparência… A corrupção existe, ninguém está negando isso, mas existem mecanismos de controle e eles estão funcionando…
O senhor sabe que tentarão desqualificar, rotular suas observações…
Certamente, isso é parte desse processo todo…
Que papel a mídia tem e deveria ter diante disso? Como o senhor percebe a atuação da mídia?
O papel é o de dizer como as coisas realmente são e foram, dizer quais são os fatos verdadeiros…e por isso vejo com preocupação a atuação de certos setores…
Que setores?
Os setores conservadores. Há certas coisas muito parecidas, inclusive a expressão "mar de lama", com a coisa terrível que a oposição fez com Getúlio… tentam fazer o que fizeram com Getúlio e depois com João Goulart, e tudo isso para impedir os avanços, querem, com Lula ou sem Lula, interromper os avanços do processo democrático, e o verdadeiro avanço se deu com a inclusão social. Esse é o avanço. Democracia é também, mas não apenas, o compromisso de liberdades formais. Democracia é, foi a inclusão social de 40 milhões de brasileiros que acontece desde Lula, e esse é o grande incômodo dos setores conservadores. Se a oposição quer vencer, que tenha um ideário e busque votos.
Quanto à imprensa, à mídia, o senhor pode ser mais específico quanto ao que pensa?
Eu era ministro da Defesa no governo Lula e fui a um programa de televisão para ser entrevistado. Por três ou quatro vezes o apresentador, que me recebeu de maneira muito gentil, repetiu "mas que vergonha o mensalão, hein?", "mas que surpresa um mensalão". Na quarta vez, respondi: "Mas como surpresa com um mensalão? Você não se lembra do 'mensalão' do IBAD, aquele que terminou em CPI em 1962?". Aquilo era uma trama, uma articulação e preparação para um golpe de estado (NR: Instituto Brasileiro de Ação Democrática. Financiado por setores do empresariado e pela agência norte-americana CIA, o IBAD teve como objetivo financiar a eleição de opositores ao governo João Goulart e também setores da mídia. Por decisão judicial, o IBAD foi fechado em 1963). Se querem usar a expressão "mensalão", como ignorar tantos mensalões da história do Brasil, inclusive os bem mais recentes? Se falam em "mensalão", como se esquecem que isso de agora veio de Minas Gerais, e do PSDB?
O senhor já foi secretário estadual, deputado estadual e federal, consultor-geral da República, ministro, governador, o ministro que criou a Controladoria-Geral da União, foi exilado por seis anos e agora é candidato a vereador pelo PT em Salvador, aos 85 anos. Por quê?
Por dever de gratidão. Dever de consciência, por ver minha cidade maltratada, a administração pública indiferente e sem nenhum projeto consistente para seu desenvolvimento, submetida a um processo de corrosão moral que a todos causa indignação. Porque não há como olhar para o espelho e admitir para si mesmo não participar das grandes preocupações. As capitais, a nossa capital, são ou deveriam ser um núcleo de organização da vida, de inclusão social… Salvador foi a cidade onde conheci o mar. Isso já é muito…

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Wanderley Guilherme: mensalão será julgamento de exceção

Do Valor

"Mensalão será um julgamento de exceção", diz Wanderley Guilherme

Por Cristine Prestes | De São Paulo
O mensalão não tem nada de emblemático - ao contrário disso, será um julgamento de exceção. Essas são as palavras do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, para quem os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) têm construído um discurso paralelo ao longo das sessões que destoa da tradição da Corte. "Nunca mais haverá um julgamento em que se fale sobre flexibilização do uso de provas, sobre transferência do ônus da prova aos réus, não importa o que aconteça", afirma.

As inovações citadas por Santos sustentam sua crença na exceção. Presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, autarquia do Ministério da Cultura, o estudioso da democracia e de regimes autoritários é considerado um decano da ciência política no Brasil. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ontem, por telefone, ao Valor:

Valor: Na sua avaliação, o julgamento do mensalão no Supremo tem sido técnico ou político?
Wanderley Guilherme dos Santos: Estou seguro de que até agora, do que tenho acompanhado, os votos finais dos ministros tiveram um fundamento técnico. Eles se referem sempre a pontos do Código Penal, que explicitam quais sejam, e dão as razões pelas quais as evidências apresentadas justificam aquela votação. Comentários paralelos, entretanto, raramente têm tido a ver com esses votos.

Alguns ministros têm feito comentários que não têm nenhuma pertinência com o que vem sendo julgado. Temo que isso seja uma preparação para julgamentos e votos que não sejam tão bem fundamentados legalmente, mas sim baseados nas premissas que os juízos paralelos vêm cristalizando no cérebro das pessoas que assistem. Temo que uma condenação dos principais líderes do PT, e do PT como partido, acabe tendo por fundamento não evidências apropriadas, mas o discurso paralelo que vem sendo construído.

Valor: O sr. está falando do uso da teoria do domínio do fato, usada para atribuir responsabilidade penal a um réu que pertence a um grupo criminoso, mas que, por ocupar função hierarquicamente superior, não é o mesmo sujeito que pratica o ato criminoso?

Wanderley Guilherme: Entre outras coisas. Se retomarmos a primeira sessão, quando os ministros estavam decidindo se deveriam fatiar ou não o julgamento, Gilmar Mendes fez uma declaração que muito me assustou. Ele disse que 'o julgamento [do processo do mensalão no Supremo] desmistifica a lenda urbana de que prerrogativa de foro é sinônimo de impunidade' e que isso tinha que acabar. Fiquei assustado. O que é isso? Ele já estava dizendo que, para efeito de demonstrar à opinião pública que ela tem um preconceito sem fundamento em relação ao Supremo, o tribunal vai condenar. Ao longo do processo o ministro Luiz Fux, ao julgar alguns dos réus do processo por gestão temerária, disse que era uma gestão horrorosa. Não existe gestão horrorosa, isso é um comentário que se faz em campo de futebol, não é um comentário de um ministro da Suprema Corte.

Valor: O sr. acha que os ministros estão dizendo, nas entrelinhas do julgamento, que o tribunal condenará alguns réus sem fundamentar essas condenações em provas concretas?

Wanderley Guilherme: Exato, são comentários que às vezes não têm a ver com o que está sendo julgado, mas na hora do voto os ministros votam de acordo com a legislação. É uma espécie de vale-tudo. Esse é meu temor. O que os ministros expuseram até agora é a intimidade do caixa 2 de campanhas eleitorais e o que esse caixa 2 provoca. A questão fundamental é: por que existe o caixa 2? Isso eles se recusam a discutir, como se o que eles estão julgando não fosse algo comum - que pode variar em magnitude, mas que está acontecendo agora, não tenho a menor dúvida. Como se o que eles estão julgando fosse alguma coisa inédita e peculiar, algum projeto maligno.

Valor: O Supremo está destoando da forma como costuma julgar outros processos?

"Nunca vi um julgamento que inovasse em tantas coisas ao mesmo tempo. Duvido que aconteça de novo"

Wanderley Guilherme: Sem dúvida. Esse Supremo tem sido socialmente muito avançado, bastante modernizador, mas ele é politicamente pré-democrático. Primeiro porque os ministros têm uma ojeriza em relação à política profissional, como se eles não fizessem política - fazem o tempo todo. Mas em relação à política profissional eles têm um certo desprezo aristocrático. E quando na política brasileira irrompeu a política popular de mobilização, eles não aceitaram, dão a isso um significado de decadência, degradação.

Valor: Ainda que o caixa 2 de campanhas eleitorais tenha sido o que motivou os demais crimes apontados pela acusação, em nenhum momento o Supremo coloca em julgamento o sistema eleitoral brasileiro?

Wanderley Guilherme: Nossa legislação eleitoral é nebulosa, confusa, inconsistente. Isso está nos jornais todos os dias, cada eleição é um momento de elevado índice de litígios na sociedade. Cada zona eleitoral decide de forma diferente a propósito dos mesmos fatos. É uma legislação que provoca conflitos, que traz uma imprevisibilidade jurídica enorme para o sistema brasileiro. Mas os ministros não querem aceitar isso, não querem aceitar que a Justiça eleitoral é a causadora dos problemas políticos no país.

Valor: Mas na atual fase do julgamento, que envolve o núcleo político, os ministros do Supremo estão citando as coligações entre o PT e outros partidos de diferentes posições ideológicas...

Wanderley Guilherme: Eles acham que não existem coligações entre partidos de orientações diferentes, acham isso uma aberração brasileira, mas não conhecem a democracia. Por isso que eu digo que é pré-democrático, eles têm uma ideia de como a democracia funciona no mundo inteiramente que é inteiramente sem fundamento, acham que a democracia é puramente ideológica. Os sistemas de representação proporcional são governados por coalizões das mais variadas. Não tem nada de criminoso nisso. Mas os ministros consideram que, para haver coligações dessa natureza, só pode haver uma explicação criminosa no Código Penal. Isso é um preconceito.

Valor: Se o Supremo condenar os réus do núcleo político sem fundamentar suas decisões em provas de que houve crimes, mas o fazendo apenas porque partidos de diferentes vertentes de pensamento se coligaram, isso não comprometeria várias instituições brasileiras, a começar pelo próprio sistema político?

Wanderley Guilherme: Comprometeria se esse julgamento fosse emblemático, como sugerem. Na minha opinião, dependendo do final do julgamento, acho que nunca mais vai acontecer. Até os juristas estão espantados com a quantidade de inovações que esse julgamento está propiciando, em vários outros pontos além da teoria do domínio do fato. Nunca vi um julgamento que inovasse em tantas coisas ao mesmo tempo. Duvido que um julgamento como esse aconteça de novo em relação a qualquer outro episódio semelhante.

Valor: O que se tem dito é que a Justiça brasileira vai, enfim, levar políticos corruptos para a cadeia. O sr. está dizendo que isso vai acontecer apenas desta vez?

Wanderley Guilherme: Estão considerando esse julgamento como um julgamento emblemático, mas é justamente o oposto, é um julgamento de exceção. Isso jamais vai acontecer de novo, nunca mais haverá um julgamento em que se fale sobre flexibilização do uso de provas, sobre transferência do ônus da prova aos réus, não importa o que aconteça. Todo mundo pode ficar tranquilo porque não vai acontecer de novo, é um julgamento de exceção.

Valor: Um julgamento de exceção para julgar um partido?

Wanderley Guilherme: Exatamente. O Supremo tem sido socialmente avançado e moderno e é competente, sem dúvida nenhuma, mas é politicamente pré-democrático. Está reagindo a uma circunstância que todos conhecem, que não é única, mas porque se trata de um partido de raízes populares. Está reagindo à democracia em ação - claro que naqueles aspectos em que a democracia é vulnerável, como a corrupção. Mas é um aspecto que não decorre do fato de o partido ser popular, mas da legislação eleitoral, feita pelo Legislativo e pelo Judiciário. Eles são a causa eficiente da face negativa da competição democrática.

Valor: No julgamento da hipótese de compra de votos no Congresso, não discute o próprio sistema político que permite a troca de cargos por apoio político ou a existência de alianças regionais, por exemplo?

Wanderley Guilherme: A votação da reforma tributária não foi unânime, mas vários votos do PSDB e do DEM foram iguais aos dos governistas. Na reforma previdenciária, o PSDB votou unanimemente junto com o governo, na época o PFL também votou quase unanimemente. Isso aconteceu na terça-feira, quando todos os partidos votaram com o governo no Código Florestal - o PT foi o partido com mais votos contrários. É um erro de análise inaceitável pegar a votação de um partido e dizer que o voto foi comprado. Isso é um absurdo. E não é só isso. A legislação é inconsistente no que diz respeito a coligações. Ela favorece a coligação partidária de qualquer número de partidos - todos, se quiserem, podem formar uma coligação eleitoral só. Porém, a lei proíbe que partidos que têm maior capacidade de mobilização financeira transfiram, à luz do dia e por contabilidade clara, recursos para partidos com menor capacidade de mobilização. Então você induz a criação de coligações, mas proíbe o funcionamento delas. Isso favorece o caixa 2, entre outras coisas. Todos os países com eleições proporcionais permitem coligações, do contrário não há governo possível. A coligação entre partidos que não têm a mesma orientação ideológica não é crime.

Valor: Desde o início do julgamento os ministros do Supremo apontam a inexistência de provas técnicas contra a antiga cúpula do PT, afirmando que as provas existentes são basicamente testemunhais

Wanderley Guilherme: O ministro Joaquim Barbosa, em uma de suas inovações, declarou, fora dos autos, que ia desconsiderar vários depoimentos dados em relação ao PT e a alguns dos acusados porque haviam sido emitidos por amigos, colegas de parlamento, mas considerou outros depoimentos. A lei não diz isso, não há fundamento disso em lei. Um ministro diz que vai desconsiderar depoimentos porque são de pessoas conhecidas como amigos, dos réus, mas pinça outros, e ninguém na Corte considera isso uma aberração? Parece-me que o julgamento terminará por ser um julgamento de exceção.

Valor: Isso significa que a jurisprudência que vem sendo criada no caso do mensalão será revertida após o julgamento?

Wanderley Guilherme: Espero que não, porque realmente se isso acontecer vai ser uma página inglória da nossa história.

Fonte: http://advivo.com.br/blog/luisnassif/wanderley-guilherme-mensalao-sera-julgamento-de-excecao

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O arsênico no arroz norte-americano



Por zanuja castelo branco
Do Opera Mundi

Todos os tipos de arroz têm substâncias cancerígenas nos EUA, diz estudo

Agência norte-americana sugere que sejam estabelecidos limites de arsênico nos alimentos
Todas as variedades de arroz e parte dos produtos derivados desse alimento contêm índices elevados de substância cancerígena nos Estados Unidos, conforme revelou nesta quarta-feira (19/09) o relatório da organização norte-americana Consumer Reports.

A investigação autônoma analisou mais de 200 amostras de produtos adquiridos em mercados nos EUA e descobriu que grande parte dos alimentos estava infectada por arsênico. De itens orgânicos a convencionais, sem glúten ou para crianças, nenhum tipo de arroz ou de derivados está livre da substância.
Cereais de arroz para crianças possuem pelo menos cinco vezes mais arsênico do que aqueles produzidos a partir de aveia.

O arroz integral, por sua vez, apresenta maior presença do elemento químico do que o arroz branco. De forma geral, as pessoas que se alimentam constantemente com o cereal têm 55% a mais de arsênico em suas urinas do que aquelas que evitam o grão.

A substância foi encontrada em duas formas diferentes nos produtos analisados: orgânica, que consiste em seu estado menos perigoso, e inorgânica, quando está mais atrelada a ocorrência de câncer. Infelizmente, a pesquisa descobriu que o arsênico inorgânico, sua versão mais arriscada para a saúde humana, é o mais presente nos alimentos.

Tendo em vista os resultados de sua investigação, a Consumer Reports, que já mediu os níveis de arsênico em sucos industrializados, recomendou que a FDA (Administração de Alimentos e Drogas dos EUA) estabeleça limites da substância em produtos alimentícios. A organização, no entanto, deve lutar contra uma indústria bilionária no país.

 “Não existe nenhuma evidência documentada de efeitos reais adversos para a saúde da exposição de arsênico no arroz cultivado em solo norte-americano”, disse Anne Banville, vice-presidente da Federação de Arroz dos EUA, ignorando pesquisas médicas sobre o assunto. Banville afirmou que os benefícios do grão devem ser comparados ao risco do elemento cancerígeno.

“Nós já sabemos que alta concentração de arsênico em água potável resulta em um dos mais altos riscos de doenças a partir de substâncias tóxicas”, disse Allan Smith, que possui pós-graduação em epidemiologia na Universidade de Berkeley, na Califórnia. Em pesquisa, Smith demonstrou que o nível de arsênico na água do Chile e da Argentina causou câncer no pulmão, na bixiga e outras doenças.


Fonte: http://advivo.com.br/blog/luisnassif/o-arsenico-no-arroz-norte-americano
  

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Meu nome também é Lula




Estando em pleno gozo de todos os direitos políticos e de todas as demais garantias individuais concernentes à cidadania brasileira, diante da campanha hedionda de difamação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ora promovida por seus adversários políticos (declarados e enrustidos), venho fazer uma declaração.

Acompanho a trajetória de vida do ex-presidente desde a campanha eleitoral de 1989. Dá quase um quarto de século. A cada dia desses 23 anos, com intervalo de nem uma centenas de dias, se tanto, vi e ouvi todo tipo de acusação contra ele. Todo tipo que se possa imaginar.

Naquele 1989, os mesmos grandes meios de comunicação que hoje, após tanto tempo, continuam lançando acusações análogas às de outrora contra o ex-operário, chegaram a convencer o Brasil de que ele era mais rico do que o adversário Fernando Collor por morar em uma casa emprestada por um empresário.

Acompanhei a vida de Lula, desde então. Como tantos sabem, sobretudo seus inimigos, ele não enriqueceu com a política. Muito pelo contrário, seu patrimônio – sobre o qual seus adversários construíram tantas farsas – não é tão maior do que era quando disputou a primeira eleição presidencial, há 23 anos.
Lula poderia ter tirado quanto quisesse da política, se quisesse…

Ele nunca se desviou do caminho que aquele que acompanhou a sua vida sabe que era o que verdadeiramente perseguia, o de dar ao filho do “peão” oportunidades menos inferiores às dos filhos dos janotas empertigados que se julgam melhores do que o resto por terem um sobrenome de origem européia e um canudo de papel outorgado por uma universidade.

Esse homem, com sua instrução rudimentar, ainda na minha juventude fez com que eu, que estudei nas melhores escolas de São Paulo, pudesse entender que um país injusto como o Brasil não é bom para ninguém, e que só com a igualdade de oportunidades é que poderia fazer jus ao conceito fundamental de nação.

É inevitável fazer a analogia entre a luta de Lula contra legítimos impérios empresariais e as mais poderosas forças políticas – começando por uma ditadura – e o conto bíblico da vitória do jovem e franzino David sobre o poderoso gigante Golias. Afinal, Lula venceu um gigante monstruoso. E venceu três vezes.

Dirão que construí, para mim, uma imagem romanceada de um político como qualquer outro. Mais uma vez provo que estão errados. Tenho todas as justificativas racionais do universo para dizer que Luiz Inácio Lula da Silva jamais traiu a minha confiança. O poder não o mudou e ele cumpriu todas as promessas que me fez ao fazê-las a todos os cidadãos.

Lula fez seu povo – como ele mesmo diz, os feios, os desprezados, os pobres e desesperançados – melhorarem de vida como jamais ocorrera e alçou o Brasil a uma era de ouro. E o principal: devolveu a auto-estima aos brasileiros.

Agora, querem se vingar das derrotas acachapantes que Lula lhes impôs. Querem macular seu legado com acusações farsescas, irresponsáveis, criminosas. Querem, se possível, vê-lo encarcerado, pois foi sempre isso que fizeram com adversários políticos desde que atiraram o país em uma ditadura sangrenta.

Pois se essa afronta prosperar, dividirei, orgulhosamente, o banco dos réus com o ex-presidente. E serei acompanhado por milhões. Mas como só posso falar por mim, juro que, se Lula for a um tribunal, estarei ao seu lado. E quando lhe perguntarem o nome, levantar-me-ei e direi que o meu também é Lula.

Fonte:http://www.blogdacidadania.com.br/2012/09/meu-nome-tambem-e-lula/#comment-349955

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Manter viva a causa do PT : para além do “Mensalão”



Há um provérbio popular alemão que reza: “você bate no saco mas pensa no animal que carrega o saco”. Ele se aplica ao PT com referência ao processo do “Mensalão”. Você bate nos acusados mas tem a intenção de bater no PT. A relevância espalhafatosa que o grosso da mídia está dando à questão, mostra que o grande interesse não se concentra na condenação dos acusados, mas através de sua condenação, atingir de morte o PT.

De saída quero dizer que nunca fui filiado ao PT. Interesso-me pela causa que ele representa pois a Igreja da Libertação colaborou na sua formulação e na sua realização  nos meios populares. Reconheço com dor que quadros importantes da direção do partido se deixaram morder pela mosca azul do poder e cometeram irregularidades inaceitáveis.

Muitos sentimo-nos decepcionados, pois depositávamos neles a esperança de que seria possível resistir às seduções inerentes ao poder. Tinham a chance de mostrar um exercício ético do poder na medida em  que  este poder reforçaria o poder do povo que assim se faria participativo e democrático.

Lamentavelmente houve a queda. Mas ela nunca é fatal. Quem cai, sempre pode se levantar. Com a queda não caiu a causa que o PT representa: daqueles que vem da grande tribulação histórica sempre mantidos no abandono e na marginalidade. Por políticas sociais consistentes, milhões foram integrados e se fizeram sujeitos ativos. Eles estão inaugurando um novo tempo que obrigará  todas as forças sociais a se reformularem e também a mudarem seus hábitos políticos.

Por que muitos resistem e tentam ferir letalmente o PT? Há muitas razões. Ressalto  apenas duas decisivas.
A primeira tem a ver com uma questão de classe social. Sabidamente temos elites econômicas e intelectuais das mais atrasadas do mundo, como soia repetir Darcy Ribeiro.

Estão mais interessadas em defender privilégios do que garantir direitos para todos. Elas nunca se reconciliaram com o povo. Como escreveu o historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma no Brasil 1965,14) elas “negaram seus direitos, arrasaram sua vida e logo que o viram crescer, lhe negaram, pouco a pouco, a sua aprovação, conspiraram para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continuam achando que lhe pertence”.

Ora, o PT e Lula vem desta periferia. Chegaram democraticamente ao centro do poder. Essas elites tolerariam Lula no Planalto, apenas como serviçal, mas jamais como Presidente. Não conseguem digerir este dado inapagável. Lula Presidente  representa uma virada de magnitude histórica. Essas elites perderam. E nada aprenderam. Seu tempo passou. Continuam conspirando, especialmente, através de uma mídia e de seus analistas,  amargurados por sucessivas derrotas como se nota nestes dias, a propósito de uma entrevista montada de Veja contra Lula. Estes grupos se propõem apear o PT do poder e  liquidar  com  seus líderes.

A segunda razão está em seu arraigado conservadorismo. Não quererem mudar, nem se ajustar ao novo tempo. Internalizaram a dialética do senhor e do servo. Saudosistas, preferem se alinhar de forma agregada e subalterna, como servos,  ao senhor que hegemoniza a atual fase planetária: os USA e seus aliados, hoje todos em crise de degeneração. Difamaram a coragem de um Presidente que mostrou a autoestima e a autonomia do país, decisivo para o futuro ecológico e econômico do mundo, orgulhoso de seu ensaio civilizatório racialmente ecumênico e pacífico. Querem um Brasil menor do que eles para continuarem a ter vantagens.

Por fim, temos esperança. Segundo Ignace Sachs, o Brasil, na esteira das políticas republicanas inauguradas pelo do PT e que devem ser ainda aprofundadas, pode ser a Terra da Boa Esperança, quer dizer, uma pequena antecipação do que poderá ser a Terra revitalizada, baixada da cruz e ressuscitada.
Muitos jovens empresários, com outra cabeça, não se deixam mais iludir pela macroeconomia neoliberal globalizada. Procuram seguir o novo caminho  aberto pelo PT e pelos aliados de causa.

Querem produzir autonomamente para o mercado interno, abastecendo os milhões de brasileiros que buscam um consumo necessário, suficiente e responsável e assim poderem viver um desafogo com dignidade e decência.

Essa utopia mínima é factível. O PT  se esforça por realizá-la. Essa causa não pode ser perdida em razão da férrea resistência de opositores  superados porque é sagrada demais pelo tanto de suor e de sangue que custou.

*Leonardo Boff é teólogo, filósofo, escritor e dr.h.causa em politica pela Universidade de Turim por solicitação de Norberto Bobbio.

FONTE: http://leonardoboff.wordpress.com/2012/09/17/manter-viva-a-causa-do-pt-para-alem-do-mensalao/