terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Assim caminha a impunidade





Meio na surdina, como convém a processos do alto tucanato, a Justiça livrou mais um envolvido no chamado mensalão mineiro. O ex-ministro e ex-vice-governador Walfrido dos Mares Guia safou-se da acusação de peculato e formação de quadrilha, graças ao artifício de prescrição de crimes quando o réu completa 70 anos. Já se dá como praticamente certa a absolvição, em breve, de outro réu no escândalo. Trata-se de Cláudio Mourão, ex-tesoureiro da campanha do PSDB ao governo mineiro em 1998. Ao fazer 70 anos em abril, Mourão terá direito ao mesmo benefício invocado por Mares Guia.

Vários pesos, várias medidas. Enquanto o chamado mensalão petista foi julgado com celeridade (considerado o padrão nacional) e na mesma, e única, instância suprema, o processo dos tucanos recebe tratamento bastante diferente. Doze anos (isso mesmo, doze!) separam a ocorrência do desvio de dinheiro para o caixa da campanha de Eduardo Azeredo (1998) da aceitação da denúncia (2010). Com o processo desmembrado em várias instâncias, os réus vêm sendo bafejados pelo turbilhão de recursos judiciais.

Daí para novas prescrições de penas ou protelações intermináveis, é questão de tempo. Isso sem falar de situações curiosas. O publicitário Marcos Valério, considerado o operador da maracutaia em Minas, já foi condenado pelo mensalão petista. Permanece, contudo, apenas como réu no processo de Azeredo, embora os fatos que embasaram as denúncias contra o PSDB mineiro tenham acontecido muito antes.

Se na Justiça mineira o processo caminha a passo de cágado, no Supremo a situação não é muito animadora. A ação contra Azeredo chegou ao STF em 2003. Está parada até agora. Diz-se que o novo relator, o ministro Barroso, pretende acelerar os trabalhos para que o plenário examine o assunto ainda este ano. Algo a conferir.

Certo mesmo é o contraste gritante no tratamento destinado a casos similares. Em todos os sentidos. Tome-se o barulho em torno de um suposto telefonema do ex-ministro José Dirceu de dentro da cadeia. Poucos condenam o abuso de manter encarcerado um preso com direito a regime semiaberto. Isso parece não interessar. Importa sim reabrir uma investigação sobre uso de celular, que aliás já havia sido arquivada. Resultado: com a nova decisão, por pelo menos mais um mês Dirceu perde o direito de trabalhar fora da Papuda.

Por mais que se queira, é muito difícil falar de imparcialidade diante de tais fatos, que não são os únicos. As denúncias relativas à roubalheira envolvendo trens, metrô e correlatos, perpetrada em sucessivos governos do PSDB, continuam a salvo de uma investigação séria. Isso apesar da farta documentação colocada à disposição do público nas últimas semanas. Vê-se apenas o jogo de empurra e muita, muita encenação. Alguém sabe, por exemplo, que fim levou a comissão criada pelo governo de São Paulo para supostamente investigar os crimes? Silêncio ensurdecedor. Mesmo assim, cabe manter alguma esperança na Justiça --desde que seja a da Suíça.
 
 
 

domingo, 26 de janeiro de 2014

Protesto contra Copa revolta população em São Paulo

 
 


25 de janeiro de 2014. Cheguei por volta das 17 horas à avenida Paulista para cobrir o protesto contra a realização da Copa do Mundo no Brasil que partiria do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e se espraiaria pelo centro velho da capital, onde, para variar, terminaria mal.

Naquele momento, encontro a pista sentido Consolação interditada pela Polícia Militar, que, organizada em forte aparato, inclusive com cobertura de dois helicópteros, acompanhava a concentração em frente ao museu.

Quando cheguei, havia cerca de 300 manifestantes. Em algum tempo mais somavam uns 700, na melhor das hipóteses.

Para compensar o pequeno número, deixaram deserto o vão livre sob o Masp e ocuparam a pista dos veículos de forma a atrapalhar o trânsito e produzir sensação de maior número, até porque se misturavam com os transeuntes.

Na quase totalidade, eram estudantes universitários de classe média e alta. E alguns poucos homens e mulheres maduros e do mesmo estrato social. E muita polícia. Provavelmente, metade do número de manifestantes.

Conversei com vários integrantes do movimento, mas nenhum quis gravar entrevista. Contudo, consegui a informação de que, em grande parte, eram militantes do PSOL, do PSTU e da Rede (de Marina Silva).

Cartazes contra políticos, só vi contra Lula e Dilma.

Vários manifestantes estavam mascarados. Alguns começaram a vestir máscaras. Pouco antes das 18 horas, começaram a caminhar no sentido Paraíso, pela pista sentido Consolação.

Naquele momento, reparo que os transeuntes da avenida estavam todos do lado oposto dos manifestantes, na calçada da pista sentido Paraíso. Quase em frente ao Masp, um bar reunia dezenas de pessoas. Ouviam pagode, tomavam chope e comiam carne que o bar assava na churrasqueira que pôs na calçada.

Aproximei-me do bar e comecei a conversar com as pessoas. Quase nenhuma me permitiu gravar. Tive que pedir a mais de dez pessoas até encontrar quem aceitasse. Porém, recusaram-se a dar nomes.

Absolutamente todas as pessoas com quem conversei disseram que querem a Copa no país. E disseram que nem dão bola para essas manifestações que acontecem toda hora e que são “esquisitas” e “violentas”.

Entrevistei uma moça e um casal. A mulher do casal deu-me um depoimento interessante. Disse que quando Lula conseguiu que o Brasil sediasse a Copa, todo mundo aplaudiu. Ninguém falou nada. Agora já não haveria sentido em protestar.

Disse mais: que repudia os black blocs. E manifestou desconfiança de quem esconde o rosto.
Quando a manifestação chegou ao cruzamento da avenida Brigadeiro Luiz Antônio com a avenida Paulista, desceu a transversal rumo ao centro velho da cidade. No caminho, foi se dispersando.

Infelizmente, acabou a bateria do celular e não pude mais gravar imagens. Foi uma pena, porque os manifestantes passaram a promover arruaças.

Na avenida da Consolação, por exemplo, incendiaram lixeiras, quebraram vitrines e acuaram um homem em um fusca e lhe incendiaram o veículo. Desesperado, ainda tentou salvar o veículo. As pessoas gritavam para que saísse de perto, pois poderia explodir.

O sujeito sentou na calçada e pôs a cabeça entre as mãos. Estava chorando.

Os transeuntes, assustados e revoltados, pediam providências das autoridades. O clima de revolta no comércio e entre os que passavam podia ser sentido ao toque da mão.

Claro que não passa de uma percepção, mas acredito que essa tática do grupo “Não Vai Ter Copa” está sendo muito mal recebida pela sociedade. O efeito eleitoral que os grupos políticos por trás desse movimento pretendem pode se mostrar inverso ao que buscam.



Fonte: http://www.blogdacidadania.com.br/2014/01/protesto-contra-copa-revolta-a-populacao-em-sao-paulo/

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Diogo Mainardi paga mico na Globo News

 


Espalhou-se pela internet entrevista que a empresária paulista Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues, atual presidente da rede de varejo Magazine Luiza, concedeu ao programa Manhattan Connection, da Globo News, e que foi ao ar na noite do último domingo.

Para o apresentador Lucas Mendes, a empresária é “Simplesmente Luiza”, pois “Assim ela é tratada pela presidente Dilma Rousseff e pelos próprios faxineiros” – supõe-se que de sua empresa.
Mendes qualificou Luiza como “Um fenômeno do comércio brasileiro pelas vendas e pela gestão” e, em sua primeira pergunta a ela, deu ao telespectador a impressão de que tinha diante de si um tipo raro de empresária, o tipo otimista.

Atente para a pergunta de Mendes, leitor. Deixa clara a razão pela qual a empresária foi convidada para um programa cujo objetivo, há anos, tem sido espalhar pessimismo com o Brasil.

Lucas Mendes: “Você não esconde seu otimismo pelo Brasil, nem pela outra presidente, e diz que a culpa desse pessimismo é nossa, da imprensa. Eu acho que esse economista sentado aí do seu lado discorda”.

Uau! Pensei que sobreviria um massacre. Até porque, Luiza é uma mulher de modos simples. Tem aquele sotaque meio caipira do interior paulista, fala um português coloquial, pois, apesar de ter nascido na capital, sua tia – também Luiza, de quem herdou o negócio – fundou em Franca, interior de São Paulo, a primeira loja da rede que a sobrinha edificaria.

O tal economista que parecia que iria demolir as posições de Luiza foi o também apresentador do programa Ricardo Amorim. Porém, a expectativa se frustrou. Perguntou apenas se o seu colega Caio Blinder, que na semana passada dissera que “O varejo brasileiro está em crise”, tinha razão.

Luiza, obviamente, disse que não. Citou dados do IDV (Instituto de Desenvolvimento do Varejo). Segundo o instituto, o comércio varejista brasileiro cresceu 5,9% em 2013 e só as redes de lojas vinculadas a esse instituto geraram 631 mil empregos.

Luiza ainda teve que explicar ao já titubeante Blinder que o Brasil é “Diferente dos Estados Unidos”. Nessa explicação, a vitoriosa empresária teve que fazer ver ao jornalista o que tem sido dito exaustivamente neste blog, que o atual modelo de desenvolvimento brasileiro, hoje intrinsecamente baseado no consumo de massas, não pode estar esgotado em um país em que apenas 7% ou 8% do povo têm televisão de tela plana, em que apenas 54% têm máquina de lavar…

Enfim, Luiza teve que explicar que, com tanto brasileiro sem produtos que nos EUA qualquer um tem, o modelo de consumo de massas não pode estar “esgotado”.

Blinder, meio atônito com a aula que recebeu de uma empresária que transformou uma pequena loja do interior de São Paulo numa holding que compete hoje com as grandes redes de varejo brasileiras, balbuciou alguma coisa sobre “bolha de consumo” e foi perguntar sobre “rolezinhos”.

Mais adiante, insatisfeito, Lucas Mendes passou a bola a ele, ao próprio, a ninguém mais, ninguém menos do que o “temível” Diogo Mainardi. Seria ele que conseguiria mostrar que aquela mega empresária tão otimista com o país não sabe o que fala?

Antes de prosseguir, devo dizer que esse programa praticou uma covardia. Não se coloca para debater economia pessoas que não têm o mesmo preparo.

Detalhe: a covardia foi com Mendes, Amorim, Blinder e Mainardi.

O expatriado em Veneza – sabe Deus por que – foi logo vestindo aquele seu pretenso estilo irônico, irreverente, desassombrado, mas que não passa de pretensão porque tal estilo requer atributos intelectuais que ele, ao longo do programa, deixou ver que não tem.

Em tom professoral, Mainardi começou a “explicar” a uma empresária desse quilate que “Todos os fatores que determinaram o crescimento do varejo” e que ela acabara de citar a Blinder teriam “Murchado” porque “Os juros estão subindo, o crédito diminui, a inadimplência aumentou pelo segundo ano consecutivo” etc., etc.

E tascou uma pergunta insolente, em sua tática de tentar intimidar quem não tinha condição: “Quando é que você vai vender suas lojas para a Amazon?”.

Luiza, com o semblante sério, questionou as informações que Mainardi acabara de divulgar e prometeu lhe passar os dados corretos por e-mail. Começou dizendo que “A inadimplência está totalmente sob controle”. Nesse momento, ouve-se sorriso de deboche de Mainardi, que a interrompe: “Aumentou em 2012 e aumentou em 2013”.

Mostrando concentração, Luiza desmentiu o interlocutor: “Não! O que o que aumentou foi a inadimplência geral focada”. Explicou que a inadimplência no varejo não aumentou, diminuiu. E que nunca tivemos, no Brasil, um índice de inadimplência tão bom quanto em 2013.
Mainardi insiste: “Na sua loja…

Luiza rebate: “Não, não é na minha loja, é no Brasil”.

Mainardi não se dá por vencido e diz que os dados “da Serasa” seriam “diferentes”. Novamente, Luiza diz que ele está errado e que vai lhe passar os dados corretos.

A segunda parte desse debate que me é mais cara foi ela ter dito um fato mais do que evidente, mas que ninguém consegue dizer na grande imprensa. A declaração textual de Luiza, que vou reproduzir abaixo, tem sido repetida à exaustão neste blog:

Como é que fala que a bolha acabou? Nós precisaremos construir 23 milhões de [unidades do programa] Minha Casa Minha Vida pro brasileiro ter um nível social adequado aos países desenvolvidos. Como que a gente fala que é bolha? Bolha são 23 milhões de casas para 23 milhões de pessoas que mora (sic) com o sogro, com a sogra pagando 400 reais de aluguel. Nós tivemos três década perdida (sic)”.

Luiza volta a prometer a Mainardi que irá lhe enviar os dados da inadimplência por email, ao que ele responde com um sorriso debochado e com a petulante frase “Me poupe (sic), Luiza”.

Aquela que o colega de Mainardi disse, no início do programa, ser “Um fenômeno do comércio brasileiro pelas vendas e pela gestão” não se abalou e continuou ensinando ao insolente especialista em nada que ninguém ia comprar suas lojas. E lhe deu mais algumas explicações técnicas sobre as mudanças que poderão ocorrer no mercado nos próximos anos e sobre como suas empresas irão enfrentá-las.

A artilharia contra Luiza ainda tentou prosseguir. Amorim, o economista, deu como “prova” do “desastre” que vive anunciando que as grandes redes de varejo brasileiras não figuram entre as maiores do mundo…

Foi aí que Luiza matou a pau explicando que o varejo no Brasil não era nada até “cinco, seis anos atrás”, que era “muito esquecido”, e que ainda está “engatinhando”, o que, claro, desmonta a tese de “esgotamento” do modelo de consumo de massas.
Amorim, o economista, ficou caladinho.

Foi nesse momento que Mendes, possivelmente após ter consultado a produção do programa, reconheceu que Luiza tem razão na questão da inadimplência. E mudou para assunto mais ameno.
De fato, Luiza tem razão. A inadimplência “focada” que ela admitiu a Mainardi que subiu é a inadimplência seca, que não leva em conta fatores sazonais. É a que mede a Serasa de Mainardi. São, porém, dados brutos.

Há que levar em conta, por exemplo, que naquela determinada época do ano há sempre um aumento da inadimplência. Se não se levar esse fator em conta realmente a taxa será considerada em alta, mas não é assim que os dados devem ser interpretados.

Para esclarecer melhor, vale ler, abaixo, trecho de boletim da Boa Vista Serviços, administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).
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Inadimplência cai 0,4% em 2013

13 janeiro, 2014

Os registros de inadimplência caíram 0,4% em 2013, em todo o país, conforme apuração da Boa Vista Serviços, administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito). Em dezembro, contra novembro de 2013, houve redução de 4,5%, descontados os efeitos sazonais.
Ao longo dos primeiros seis meses de 2013, os registros de inadimplência mantiveram a queda iniciada no final de 2012. Entretanto, a partir do segundo semestre, após uma reversão temporária desta tendência, o indicador encerrou o ano em queda, com nível menor que o registrado em dezembro do ano anterior.

A melhoria do quadro da inadimplência pode ser justificada pela continuidade de fatores como aumento dos rendimentos reais, baixo desemprego, queda dos juros (*), entre outros. Além disso, em 2013 houve um grande ajuste do mercado de crédito, tornando-o mais saudável, com credores mais seletivos e consumidores mais cautelosos (…)
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Como se vê, Mainardi disse bobagem – que a inadimplência aumentou pelo segundo ano consecutivo. A matéria da Boa Vista mostra que a inadimplência aumentou em 2012, mas caiu no ano passado. Mainardi pagou um mico.

Esse fato é extremamente eloquente porque deixa ver a falta de compromisso dessa mídia terrorista com os fatos. Põe gente que não entende nada do mercado para dizer o que o patrão quer que seja dito e o expectador desavisado compra como se fosse fato.

Fato mesmo é que ri muito ao ver a incrível Luiza surrar verbalmente Diogo Mainardi. Ria sozinho. Não só pelo que ela disse – e que reproduzi acima –, mas pela forma como disse – com sua linguagem coloquial e despretensiosa.

Toda essa conversa durou, mais ou menos, uns 15 minutos. Vale muito a pena assistir. Abaixo, o vídeo.



Fonte: http://www.blogdacidadania.com.br/2014/01/diogo-mainardi-paga-mico-na-globo-news/

sábado, 18 de janeiro de 2014

Breaking Bad: Conheça o dublador de Walter White

Armando Tiraboschi faz a voz do protagonista da série na versão exibida pela Record





Walter White é, na opinião de Tiraboschi, o melhor personagem que ele já dublou na vida (Divulgação)
 

De quem será a voz de Walter White, protagonista de Breaking Bad, na versão dublada que será exibida a partir da próxima semana na Record? Coube ao experiente ator e dublador Armando Tiraboschi a missão de reproduzir em português as falas tensas, raivosas e cheias de segundas intenções do homem que joga tudo para o alto após descobrir que tem câncer.

Com mais de vinte anos de trabalho na área, Tiraboschi já emprestou o gogó a Jason Statham, Richard Gere e Mel Gibson e outros astros em vários filmes das TVs aberta e fechada. Também pode ser ouvido em desenhos e séries como Pokémon, Dragon Ball Z e Jaspion. Mas, apesar deste longo currículo, ele não tem dúvidas em dizer que Walter White é o auge de sua carreira como dublador.

— Ele é o melhor personagem com quem já trabalhei. E Breaking Bad é uma das melhores séries que vi na vida. A coisa é muito bem feita, uma loucura!

Tiraboschi não conhecia a série até ser convidado pela produtora Sony Pictures para interpretar o professor de química. De acordo com ele, o trabalho de dublagem começou a partir da terceira temporada.

— Me apaixonei no primeiro dia em que assisti à série. Não é à toa que ganhou tantos prêmios! Os atores têm um trabalho fora do comum. Eles são de uma crueza, de uma verdade, que você não encontra em séries e trabalhos pra TV. É como se todos estivessem despidos da vida pessoal e deixassem o personagem acontecer.

Ele afirma que a alta qualidade de Breaking Bad fez com que dublar Walter White fosse um trabalho bastante difícil.

— É uma série muito sofisticada, diferente. Exigiu uma dedicação absurda! Não só ele, mas todos os personagens escondem coisas um do outro. Então, até os silêncios têm uma certa intenção, que você precisa passar. E nós não podíamos fazer algo menos profundo que o trabalho deles. Se não, não daria certo.


Para saber o resultado do trabalho de Tiraboschi e dos outros dubladores, você não pode perder a estreia de Breaking Bad na Record. É na terça-feira (14), às 23h15. Não perca!


Fonte: http://rederecord.r7.com/2014/01/09/breaking-bad-conheca-o-dublador-de-walter-white/
 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Quem deveria estar na Papuda é Joaquim Barbosa

Enviado por Miguel do Rosário



Acabo de ver a seguinte notícia no site do Estadão: (…) Sete dias após sua criação, o site feito para obter doações ao ex-deputado José Genoino, condenado no processo do mensalão, já arrecadou, até a manhã desta quinta-feira, 16, mais de R$ 450 mil. As informações são do coordenador do Núcleo Jurídico do PT, Marco Aurélio Carvalho. O valor corresponde a mais de 67% do total da multa imposta ao petista pela, no valor de R$ 667,5 mil.

O ex-presidente tem até o próximo dia 20 para pagar a multa. A notícia tem vários significados. O principal deles nem é se Genoíno terá tempo de juntar o montante necessário para pagar a dívida em dia. Possivelmente, terá. Mas o principal é que há um número crescente de pessoas que acreditam na inocência de Genoíno e, por tabela, consideram que o Judiciário cometeu um erro gravíssimo ao condená-lo.

Essas pessoas estão dispostas a lutar pela verdade. Não ganham nada ao defender Genoíno ao não ser insultos. São ridicularizadas, insultadas, sabotadas. É cruel se posicionar na contramão de um linchamento midiático. É assim mesmo. É muito fácil defender uma pessoa que o senso comun defende.

Tipo a Princesa Diana. Difícil mesmo é nadar contra a corrente. Entretanto, há gente inclusive querendo se candidatar este ano a vaga de deputado federal tendo como bandeiras os erros do Supremo Tribunal Federal no julgamento da Ação Penal 470, e este novo conservadorismo midiático do judiciário. Eu mesmo conheço um quadro importante, de um partido grande, uma figura respeitada no meio jurídico, que vem levantando essas bandeiras e está disposto a levá-las à luta política. Com a solidariedade de seus admiradores, eleitores, amigos, Genoíno vai conseguir pagar a sua multa.

 Mas a maior luta será limpar seu nome. A anulação da Ação Penal 470 será uma das batalhas políticas mais importantes da década, ou mesmo do século. Mais importante ainda porque não deverá contar com ajuda do governo, que é constrangido, pelas circunstâncias, a aceitar as decisões do Judiciário. Os cidadãos, não. Numa democracia, os cidadãos são livres para contestar tudo, inclusive uma decisão judicial.

São obrigados a cumpri-la, mas não são obrigados a se resignar ao que consideram injusto. A liberdade é um valor democrático que não se ajoelha diante de nenhum magistrado de capa preta. A própria ideia de justiça, enquanto uma utopia humana, não deve ser confundida com a justiça burocrática do Estado. Pascal, em seus Pensamentos, nos lembra que “nada é tão falível como essas leis que reparam as faltas: quem lhes obedece, porque são justas, obedece à justiça que imagina, mas não à essência da lei, que está encerrada em si: é lei e nada mais”.

Ou seja, quando obedecemos a uma decisão judicial, sequer estamos nos curvando à lei em si, quanto mais à justiça; estamos tão somente nos submetendo a uma interpretação empírica e circunstancial da lei, feita por um magistrado propenso, como qualquer ser humano, ao erro. Nenhum juiz detêm a verdade sobre a lei, e nada é mais absurdo do que a pretensão napoleônica de alguns ministros do STF de acharem que detêm a verdade última sobre a Constituição.

Genoíno é inocente, e tem uma longa história de luta em prol da justiça social. Joaquim Barbosa não é inocente, e está escrevendo uma história de parceria espúria com os setores mais reacionários da sociedade. No tribunal da minha consciência, que é a instância judicial que mais valorizo, quem deveria estar na Papuda é Joaquim Barbosa. José Genoíno deveria estar em liberdade, trabalhando em prol da sociedade, para o bem do Brasil.


 


Fonte: http://www.ocafezinho.com/2014/01/16/quem-deveria-estar-na-papuda-e-joaquim-barbosa/

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A Operação Banqueiro e como se uniram as duas maiores fábricas de dossiês da República

O livro “Operação Banqueiro”, do jornalista Rubens Valente, caminha para se tornar um clássico na devassa das relações Estado-lobbies privados, especialmente o capítulo “As ameaças do grande credor”, que descreve a correspondência do super-lobista Roberto Amaral com Daniel Dantas, o banqueiro do Opportunity, reportando e-mails e conversas que manteve em 2002 com o então presidente Fernando Henrique Cardoso e o candidato José Serra.

As mensagens constam de dez CDs remetidos à Procuradoria Geral da República em Brasília – e que permaneceram na gaveta do PGR Roberto Gurgel, que não tomou providência em relação ao seu conteúdo.

Nas mensagens a FHC e Serra, Amaral insiste para que se impeça a justiça de Cayman de entregar a relação de contas de brasileiros nos fundos do Opportunity. Amaral acenava com os riscos de se abrir os precedentes e, depois, o Ministério Público Federal investir sobre as contas do Banco Matrix – de propriedade de André Lara Rezende e Luiz Carlos Mendonça de Barros, figuras ativas no processo de privatização.

 E, principalmente, sobre as contas de Ricardo Sérgio, colocado por Serra na vice-presidência internacional do Banco do Brasil.


Parte das mensagens havia sido divulgada em 2011 pela revista Época (http://tinyurl.com/l3crc72).

São relevantes para demonstrar que o Opportunity tornou-se uma questão de Estado, com envolvimento direto de FHC (tratado como "pessoa" nos emails entre Amaral e Dantas), José Serra (alcunhado de "Niger") e Andréa Matarazzo (tratado como "Conde"). Dantas era alcunhado de "grande credor".

Mostra também como Gilmar Mendes, então na AGU (Advocacia Geral da União), foi acionado em questões que interessavam ao Opportunity junto à ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações).

Não apenas por isso, mas pelo levantamento minucioso de decisões do STF (Supremo Tribunal Federal), das pressões sobre procuradores e policiais, da atividade pró-Dantas de advogados ligados ao PT, trata-se de obra definitiva para se entender os meandros da estratégia que resultou na anulação da Operação Satiagraha.

Em entrevista a Sérgio Lyrio, da Carta Capital, Valente afirma que “sem Mendes na presidência do Supremo, nem todo o prestígio de Dantas teria sido capaz de reverter o jogo de forma tão espetacular”.

É mais do que isso. Nem Mendes nem Dantas individualmente teriam o poder de influenciar os quatro grandes grupos de mídia. O único personagem com capacidade de unir todas as pontas em torno de uma bandeira maior - a conquista da presidência da República - era José Serra. É a partir dele que deve ser puxado o fio da meada.

Satiagraha foi a Primeira Guerra Mundial da mídia, um ensaio para as guerras seguintes, nas eleições de 2010 em diante.

As fábricas de dossiês

Valente não aborda o papel da mídia e a maneira como eram construídos os dossiês. Os dados abaixo são de levantamentos antigos do Blog, aos quais se somam algumas revelações adicionais do livro.

Na série "O caso de Veja" havia mostrado a maneira como Dantas e a Veja se valiam de dossiês para fuzilar não apenas adversários políticos, mas magistrados e jornalistas  que ousassem investir contra os interesses do banqueiro. É a mesma tecnologia - de dossiês e assassinatos de reputação, com ampla repercussão midiática -  reproduzida no modo Cachoeira-Veja de atuar e, antes, no modo Serra exemplificado no caso Lunus.

Dois capítulos da série merecem atenção especial:

 - (): Desembargador do STJ, Vidigal confirmou uma sentença contra Dantas. Veja fuzilou-o em uma matéria com acusações dúbias.

A matéria informava que as acusações mereceram uma representação contra ele no CNJ. Vai-se conferir a representação, e ela tomava como base a própria reportagem da Veja.

Ou seja, a revista noticiou a representação mesmo antes da denúncia que serviu de base para ela ser públicada.

O caso Márcia Cunha - uma juíza séria, do Rio, foi fuzilada pela Folha por contrariar interesses de Dantas e ter recusado proposta de suborno. Tempos depois, constatou-se sua inocência e comprovou-se a tentativa de suborno.


O livro de Valente passa ao largo da atuação da mídia, mas permite colocar as últimas pedras do quebra cabeça para entender as sementes do modelo de manipulação visando resultados políticos e jurídicos, e que se torna padrão na atuação de Dantas, de Serra (com o ápice do caso da "bolinha de papel") e de Cachoeira.

O infográfico abaixo mostra os principais atores desse período de uso intensivo de factoides, que se inicia com o caso Lunus, em 2002, e se encerra (pelo menos nesta fase) com dois episódios simultâneos: a CPI de Carlinhos Cachoeira e o julgamento da AP 470.

Todos os personagens citados estiveram envolvidos na indústria de dossiês.

Ao longo do artigo, essas ligações serão melhor esmiuçadas. Não fazem parte do livro, que fornece apenas algumas peças do quebra-cabeças, como o fato de até 2002 Serra considerar Dantas homem de ACM. Embora desde alguns anos antes Dantas já tivesse se tornado sócio de Verônica Serra.



Sobre a tecnologia de manipulação da Justiça

Na Satiagraha foi colocada em prática a tecnologia midiática que tornou-se padrão nos anos seguintes, até o ápice no julgamento da AP 470.

Consistia nas seguintes etapas:

ETAPA 1 - O Ministro Gilmar Mendes criava um fato político, verdadeiro ou falso, visando provocar comoção no STF e na opinião pública. Em geral eram fatos baseados exclusivamente nas afirmações dele, sem nenhuma testemunha que os corroborasse.

ETAPA 2 - Veja transformava o fato em reportagem de capa, valendo-se do padrão que consagrou nas parcerias com Carlinhos Cachoeira.

ETAPA 3 - No momento seguinte, o fato era repercutido pelo Jornal Nacional e demais grupos integrantes do cartel jornalístico.

ETAPA 4 - com base na repercussão, parlamentares ou autoridades judiciais aliadas da revista solicitavam providências que acabavam se completando devido ao clamor da mídia.

O clamor da mídia, a criação da figura do inimigo externo, o macartismo colocado em prática forneciam a blindagem para as ações de outros personagens, como os ex-Procuradores Gerais da República Antonio Fernando de Souza e Roberto Gurgel, além de Ministros do STF.

O piloto desse tipo de operação foi o caso Lunus, que inviabilizou a candidatura de Roseana Sarney à presidência da República. E a continuação foi a campanha de 2010, com a fabricação infindável de dossiês falsos repercutidos pela velha mídia.

 A montagem da central de dossiês

É na operação Lunus que estão as pistas para se chegar ao início do nosso modelo. Ele nasce com a nomeação de José Serra para Ministro da Saúde. Através da CEME (Central de Medicamentos), Serra monta o embrião da sua indústria de dossiês, contratando três especialistas em trabalhos de inteligência: o subprocurador da República José Roberto Santoro, o policial federal Marcelo Itagiba e o ex-militar Enio Fonteles, dono da Fence Consultoria Empresarial, especializada em arapongagem.

A primeira grande ação do grupo foi a Operação Lunus. Usou-se o poder de Estado para tal.

Do lado do Ministério Público, Santoro imiscuiu-se em um inquérito que não era dele e coordenou a ação cujo titular era o procurador Mário Lúcio Avellar. Policiais federais montaram campana, identificaram o dia e a hora em que a Lunus – de Jorge Murad – receberia contribuições e montaram um flagrante acompanhado de uma equipe do Jornal Nacional. Para melhorar a cena, arrumou-se o dinheiro em pacotes de grande visibilidade, facilitando o impacto televisivo.

Essa mesma jogada – de empilhar o dinheiro para dar impacto televisivo - foi repetida no caso dos “aloprados”, em 2006, entre um delegado da Polícia Federal e o Jornal Nacional.

A cena da Lunus (esquerda) e dos aloprados (direita)



Houve indícios de envolvimento direto da presidência da República com a operação Lunus. Da própria empresa foi enviado um telex para o Palácio do Planalto dando conta do sucesso da operação.
A mídia ainda não estava fechada com Serra e a cobertura da época desvendou rapidamente a jogada.

A Fence recebia por varredura efetuada. Segundo reportagem da revista Veja, de 20.03.2002, de primeiro de janeiro a 28 de fevereiro de 2002, período que antecedeu a Operação Lunus, a Fence recebeu do Ministério R$ 210 mil. Para tanto, necessitaria ter realizado 840 varreduras em menos de 60 dias, ou quase 14 varreduras por dia (http://glurl.co/dti).

É evidente que o pagamento não se devia a varreduras internas no Ministério.

Depois que tomou posse como governador, Serra contratou a Fence para monitorar todos os telefonemas do estado que passavam pela Prodesp (empresa de processamento de dados do estado) e “outras de seu interesse”.

Reportagem da Folha, de 17 de março de 2002, dizia o seguinte sobre Santoro e Itagiba (http://tinyurl.com/q27uasd): “O presidenciável tucano, senador José Serra (SP), conseguiu reunir sob as asas de aliados as duas principais investigações em curso que podem prejudicar sua candidatura ou implodir a campanha de seus adversários. São eles o subprocurador da República José Roberto Santoro e o delegado de Polícia Federal Marcelo Itagiba”.

A reportagem mostrava como Santoro coordenou informalmente o pedido de busca e apreensão de documentos na Lunus. E como Itagiba se valeu do cargo de superintendente regional da PF para afastar um delegado que investigava doações de campanha a Serra.

Segundo a matéria, era antiga a parceria de Santoro e Itagiba:

“José Roberto Santoro e Marcelo Itagiba fazem parte da tropa de choque de Serra no aparato policial e de investigação. Os dois já estiveram juntos antes. Em 2000, enquanto Santoro promovia ações judiciais de interesse do então ministro José Serra na área da saúde, Itagiba coordenava uma equipe instalada na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para investigar laboratórios”.

A aproximação com Cachoeira

O esquema Serra gerou dossiês contra competidores internos no PSDB - Paulo Renato de Souza, Tasso Jereissatti e Aécio Neves.

Já no governo Lula, o passo seguinte do grupo  foi na operação Valdomiro Diniz, primeiro petardo contra o então Ministro-Chefe da Casa Civil José Dirceu.

Foi divulgado vídeo de 2002, no qual Valdomiro, servindo no governo Benedita da Silva, pedia propina a Carlinhos Cachoeira.  Quando o vídeo vazou, Valdomiro trabalhava como assessor da Casa Civil. A bomba acabou explodindo no colo de Dirceu, que pagou o preço de não ter ouvido assessores sobre o passado de Valdomiro.


Assim que o caso explodiu, Santoro – e o procurador Marcelo Serra Azul – reuniram-se com Cachoeira de madrugada, no próprio prédio do Ministério Público Federal, em Brasília, para obter a íntegra da fita em troca de proteção jurídica.


Santoro já era subprocurador geral, sem nenhuma relação com o episódio.


A conversa que foi parar no Jornal Nacional, que precedeu a divulgação com um enorme editorial para justificar porque não abriu mão do furo.

No grampo, Santoro pede pressa a Carlinhos Cachoeira porque já amanhecia e o PGR Cláudio Fonteles poderia chegar e acusa-lo de estar armando para prejudicar o Chefe da Casa Civil José Dirceu.

A maneira como Santoro prevê o que seria a fala de Fonteles – caso os flagrasse na reunião noturna – revela nitidamente suas intenções políticas.

Hoje em dia, Santoro é advogado contratado pelo PSDB para atuar no caso do cartel dos trens.

Carlinhos Cachoeira e Jairo

A partir dessa primeira abordagem de Santoro sobre Cachoeira, muda o comportamento da mídia. De bicheiro suspeito, passa não apenas a ser blindado como torna-se íntimo colaborador da revista Veja em uma infinidade de escândalos com objetivos políticos. É como se a operação Lunus estivesse sendo reproduzida em uma linha de montagem.

A de maior impacto foi o do grampo no funcionário dos Correios Maurício Marinho, que resultou por linhas tortas no escândalo do “mensalão”. No capítulo da série de Veja, “O araponga e o repórter” (http://tinyurl.com/leps4ox) conto em detalhes essa armação.



Serra contrata Santoro; Santoro se aproxima de Cachoeira; logo depois Cachoeira fecha seu pacto com a Veja e a CPI de Cachoeira revela os dois principais braços do bicheiro: o araponga Jairo  Martins e o então senador Demóstenes Torres.

Foi a fase de maior poder de Cachoeira. Veja transformou Demóstenes em baluarte contra a corrupção. A mando de Cachoeira, Jairo levantava dossiês, Demóstenes fazia as denúncias e Veja repercutia. Com o poder conquistado, Demóstenes fazia lobby para Cachoeira junto ao governo.

Para comprovar o padrão de atuação do grupo, em 2004 Demóstenes já se mostrara exímio fabricante de factoides para gerar mídia e desgaste nos adversários. Como o suposto atentado de que teria sido vítima em 2004 (http://tinyurl.com/kql2jza) que rendeu muita manchete sem nunca ter sido devidamente apurado.

E aí vão se fechando os elos da corrente, e entra em cena Gilmar Mendes.

Com Demóstenes Gilmar estreitou uma relação pessoal já antiga (http://glurl.co/dtj). Jairo, o araponga preferencial de Cachoeira, o especialista em dossiês para a Veja foi contratado como assessor especial de Gilmar. Ou seja, o principal operador de Cachoeira, o homem que abastecia Veja com grampos passou a ter acesso ao sistema de telefonia do STF, na condição de assessor especial de Gilmar. Expôs todos os Ministros aos grampos de Jairo.

Fechados os elos da corrente, começam a brotar dossiês por todos os poros da mídia.
No início da operação, Gilmar foi ajudado por um sem-número de boatos infundados contra ele, alimentados por seus adversários e por abusos da PF em algumas operações espetaculosas.

Os factoides contra a Satiagraha

Quando surgiram os primeiros boatos sobre o cerco a Dantas, a primeira investida foi uma capa de Veja, “Medo no Supremo”, de 22 de agosto de 2007, em que cozinhava um conjunto de informações velhas, para dar a impressão de que o STF estava ameaçada pelo grampo. Mereceu um dos capítulos da minha série “O caso de Veja” (http://tinyurl.com/p4geurw).



Aparentemente, era uma matéria bombástica:

“É a primeira vez que, sob um regime democrático, os integrantes do Supremo Tribunal Federal se insurgem contra suspeitas de práticas típicas de regimes autoritários: as escutas telefônicas clandestinas. Sim, beira o inacreditável, mas os integrantes da mais alta corte judiciária do país suspeitam que seus telefones sejam monitorados ilegalmente”.

A matéria não passava de um amplo “cozidão” de notícias velhas. Vários ministros citados desmentiram a matéria, de Sepúlveda Pertence a Marco Aurélio de Mello. O único que sustentou o que disse foi Gilmar. E o que disse ele?

A Polícia Federal se transformou num braço de coação e tornou-se um poder político que passou a afrontar os outros poderes", afirma o ministro Gilmar Mendes, numa acusação dura e inequívoca”.

Quando estourou a Satiagraha, repetiu-se o estratagema em diversos episódios:

1. Os dois habeas corpus em favor de Daniel Dantas.

Gilmar tratou o caso como se o estado de direito estivesse ameaçado. Sucessivas invasões de escritórios de advocacia pela Polícia Federal forneceram-lhe o álibi necessário. Mas avançou muito além do habeas corpus, com discursos bombásticos que, repercutidos pela mídia, criaram o clima de resistência à Satiagraha. No livro, Valente esmiuça todas as decisões controvertidas de Gilmar para anular a operação.

No vídeo abaixo, Gilmar denuncia supostos grampos de que teria sido alvo. Faz um discurso eficiente. Ainda não tinha em sua ficha os episódios seguintes, que não o qualificariam mais como testemunha confiável.



2. O grampo sem áudio.


O tal grampo de conversa entre Gilmar Mendes e Demóstenes Torres - principal parceiro de Veja na conexão Carlinhos Cachoeira.
Jamais apareceu o áudio. Investigações divulgadas na época mostravam ser impossível grampear telefones do Senado. Sequer se conferiu se, na tal hora do suposto grampo, houve de fato ligações telefônicas entre Gilmar e Demóstenes, ou ao Senado.

Era um grampo consagrador para Demóstenes, onde os dois colegas lembravam as grandes ações cívicas do senador.

Com base em um factoide, Gilmar cobrou explicações do próprio presidente da República. A ameaça de crise entre instituições levou ao afastamento do diretor da Abin Paulo Lacerda e deu início à anulação da Satigraha.

Segundo o Blog de Noblat, a Abin identificou o araponga que gravou a conversa. Foi o mesmo que passou a transcrição para a revista Veja (http://tinyurl.com/myq2kdw)
(http://tinyurl.com/myq2kdw).Se o grampo existisse de fato, Veja não teria a menor dificuldade - ou escrúpulo - em divulgá-lo, ou entregar a fonte.

Aqui no Blog desmontamos a farsa (http://tinyurl.com/mo4o4w6).

É significativo o fato de que os dois personagens da história - Gilmar e Demóstenes - terem histórico de criação de factoides sem provas.

3. O grampo no Supremo Tribunal Federal.

Um assessor de segurança do STF passou para a revista Veja a informação de que havia detectado grampo em uma das salas do Supremo. Mereceu capa e, com base no alarido, foi criada a CPI do Grampo (http://tinyurl.com/p2hmlsy).


Quando o relatório da segurança do STF foi entregue à CPI, constatou-se que haviam sido captado sinais de fora para dentro do órgão. Logo, jamais poderia ser interpretado como grampo. Coube a leitores do Blog derrubar essa armação.

Na CPI ficou-se sabendo que o relatório com as conclusões falsas saíram do próprio gabinete da presidência do STF.

Foi tão grande a falta de reação dos demais ministros, ante a manipulação do suposto grampo, que chegou-se a aventar a fantasia de que Gilmar teria mandado grampeá-los para mantê-los sob controle.
Nesse período, Jairo Martins assessorava Gilmar.

4. A reunião com Nelson Jobim e Lula.

Mesmo depois da Satiagraha, manteve-se o mesmo modo de operação no julgamento da AP 470. Há um encontro entre Gilmar e Lula no escritório de Nelson Jobim. Passa um mês, sem que nada ocorra. De repente, alguém se dá conta do potencial de escândalo que poderia ser criado. Gilmar concede então uma entrevista bombástica, indignada, dizendo ter sido pressionado por Lula.

Dos três presentes ao encontro, dois - Jobim e Lula - negam peremptoriamente qualquer conversa mais aprofundada sobre o mensalão.


Foi em vão. A versão de Gilmar é veiculada de forma escandalosa pela revista Veja, criando o clima propício ao julgamento "fora da curva" da AP 470. O mesmo Gilmar do grampo sem áudio e da falsa comunicação de grampo no STF.

São quatro episódios escândalos inéditos na história do Supremo, todos os quatro tendo como origem Gilmar Mendes.


Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/a-operacao-banqueiro-e-como-se-uniram-as-duas-maiores-fabricas-de-dossies-da-republica

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Programa da TV iraniana para a América Latina analisa Brasil e perspectivas

 
 

Por Antonio Carlos Silva

Fort Apache - Brasil : La Emergência de Un Gigante

Fort Apache é um programa da TV iraniana para a América Latina (TV Hispana) que semanalmente realiza debates sobre a situação dos países latino-americanos .

Neste programa, foi debatido a situação econômica e política atual, e as perspectivas do "gigante" para as próximas décadas .

Debatedores :

Roberto Vasquez

Míriam Dutra

Manolo Monereo

Pablo Sabag

Luísa Belchior (FSP)

Andrea Benites
 
 
 

 
 
 
 
 
Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/programa-da-tv-iraniana-para-a-america-latina-analisa-brasil-e-perspectivas
 

domingo, 12 de janeiro de 2014

Butequeiros, atenção! Ótima dica. Fica a dica...!


A HORA CERTA PARA BEBER ÁGUA

DR. CELIO DE MORAES MARQUES

 

Você vai ao bar e bebe uma cerveja.

 

Bebe a segunda cerveja, terceira , e assim por diante.

 

O teu estomago manda uma mensagem pro teu cérebro dizendo "Caracas véio... o cara tá bebendo muito liquido, tô cheião!!!"

Teu estômago e teu cérebro não distinguem que tipo de liquido está sendo ingerido, ele sabe apenas que "é líquido".

Quando o cérebro recebe essa mensagem ele diz: "Caracas, o cara tá maluco!!!"

E manda a seguinte mensagem para os Rins "Meu, filtra o máximo de sangue que tu puderes, o cara aí tá maluco e tá bebendo muito líquido, vamo botar isso tudo pra fora" e o RIM começa a fazer até hora-extra e filtra muito sangue e enche rápido.

 

Daí vem a primeira corrida ao banheiro. Se você notar, esse 1º xixi é com a cor normal, meio amarelado, porque além de água, vem as impurezas do sangue.

O RIM aliviou a vida do estômago, mas você continua bebendo e o estomago manda outra mensagem pro CÉREBRO "Cara, ele não pára, socorro!!!" e o CÉREBRO manda outra mensagem pro RIM "Véio, estica a baladeira, manda ver aí na filtragem!!!"

 

O RIM filtra feito um louco, só que agora, o que ele expulsa não é o álcool, ele manda pra bexiga apenas ÁGUA (o líquido precioso do corpo). Por isso que as mijadas seguintes são transparentes, porque é água. E quanto mais você continua bebendo, mas o organismo joga água pra fora e o teor de álcool no organismo aumenta e você fica mais "bunitim".

Chega uma hora que você tá com o teor alcoólico tão alto que teu CÉREBRO desliga você. Essa é a hora que você desmaia... dorme... capota...

Ele faz isso porque pensa "Meu, o cara tá a fim de se matar, tá bebendo veneno pro corpo, vou apagar esse doido pra ver se assim ele pára de beber e a gente tenta expulsar esse álcool do corpo dele"

 

Enquanto você está lá, apagado (sem dono), o CÉREBRO dá a seguinte ordem pro sangue "Bicho, apaguei o cara, agora a gente tem que tirar esse veneno do corpo dele. O plano é o seguinte, como a gente está com o nível de água muito baixo, passa em todos os órgãos e tira a água deles e assim a gente consegue jogar esse veneno fora".

O SANGUE é como se fosse o Boy do corpo. E como um bom Boy, ele obedece as ordens direitinho e por isso começa a retirar água de todos os órgãos. Como o CÉREBRO é constituído de 75% de água, ele é o que mais sofre com essa "ordem" e daí vêm as terríveis dores de cabeça da ressaca.

 

Então, sei que na hora a gente nem pensa nisso, mas quando forem beber, bebam de meia em meia hora um copo d'água, porque na medida que você mija, já repõe a água.

 

Texto retirado de "O bar do Zé".

 

Sabia que...

... tomar água na hora correta maximiza os cuidados no corpo humano?

2 copos de água depois de acordar ajuda a ativar os órgãos internos.

1 copo de água 30 minutos antes de comer ajuda na digestão.

1 copo de água antes de tomar banho ajuda a baixar a pressão sanguínea.

1 copo de água antes de ir dormir evita ataques do coração.

 

F I M

sábado, 11 de janeiro de 2014

14 verdades demolidoras sobre o Mentirão

Enviado por Miguel do Rosário on 11/01/2014 – 11:34 am 


Mentirão continua ruindo

A Ação Penal 470 é um momento triste do judiciário brasileiro, porque corresponde ao que juristas sérios chamam de espetacularização da justiça. A única coisa “boa” que os próprios ministros do STF, e mesmo a imprensa, conseguem falar sobre o julgamento do mensalão é que ele seria um “exemplo”, correspondendo a uma sinalização de que a justiça brasileira agora prenderia também “ricos e poderosos”. Ou seja, a única lógica do julgamento, é a do linchamento, de um lado, e do justiçamento, de outro. Os grupos de extermínio que agiam na ditadura também agiam com vistas a darem um “exemplo”.

É uma falácia, contudo. O mensalão não prendeu ninguém rico e poderoso. Os que são ricos não são poderosos. Alguns tinham poder em função do cargo político que ocuparam, democraticamente, como Dirceu. Mas o poder de um ministro se esgota quando ele sai do cargo. Não existe ex-ministro poderoso. Dirceu continuou influente, não poderoso. E nenhum dos petistas presos são ricos. Ao contrário. Genoíno, por exemplo, é um dos parlamentares mais pobres do Congresso Nacional.

O problema da Ação Penal 470 é que ela inverteu a lógica da justiça moderna e trouxe de volta a da inquisição. Não importava mais a existência ou não de provas. Os réus tinham de ser condenados porque já tinham sido julgados pela mídia. Qualquer recuo seria considerado uma derrota da mídia, e por isso esta usou todos os seus recursos. Pela mesma razão, o encarceramento dos réus lhe despertou os sentimentos mais sádicos, que jamais vimos por ocasião de outros políticos.

Felizmente, a democracia tem suas vacinas, e a questão política, conforme vai sendo posta de lado, dá lugar ao questionamento de ordem jurídica. Os erros e arbitrariedades da Ação Penal 470 são tantos e tão grosseiros que não podem se tornar jurisprudência, sob o risco de se voltar inclusive para os mesmos que patrocinaram a farsa. Por isso, dia ou outro, a farsa vai ruir. Ela se sustenta no senso comum construído pelos meios de comunicação.

Hoje, por exemplo, divulgou-se outra série de argumentos, todos fundamentados em farta documentação, sobre as mentiras da Ação Penal 470. Foram preparados, desta vez, pela equipe de comunicação de José Dirceu.

Confira as imagens abaixo, com calma. Qualquer dúvida, comente, para que nós, ou outros leitores, possamos responder.

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Fonte: http://www.ocafezinho.com/2014/01/11/14-verdades-demolidoras-sobre-o-mentirao/

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A barbárie e o seu ventre


 
Quando se evoca as agências de risco para intimar o Estado a cortar programas sociais e garantir o dos rentistas, que futuro estamos projetando para o Brasil?
 
 


por: Saul Leblon

Coube ao editor de Carta Maior, Marco Aurélio Weissheimer, esticar o olhar para além do muro da conveniência que acomoda a questão prisional brasileira num círculo de ferro feito de superlotação, precariedade, guerra de facções e barbárie.

As cinco palavras selam a vida de 500 mil pessoas que subsistem do lado de dentro, mas não esclarecem o conjunto que interliga o seu destino ao dos demais 189,5 milhões que completam a sociedade do lado de fora.

São destinos entrelaçados, adverte  Weissheimer  na análise ‘
O Presídio Central e a nossa vida do lado de fora’ (leia nesta pág).

Sua reflexão joga água fria no foco conservador que prefere  circunscrever o debate ao bordão da flacidez administrativa. Sobretudo quando essa dimensão real do problema – insuficiente  para entendê-lo, porém, e sobretudo para equacioná-lo— interliga a  barbárie a administrações associadas ao governo petista.

A série de 14 decapitações ocorridas na Penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão, de onde facções comandam atentados que resultaram na morte de uma criança, no último fim de semana, enquadra-se nesse gênero.

Atribuir à exclusiva incompetência tucana o poder do PCC  em São Paulo pertence ao mesmo reducionismo, no caso de extração petista.

Não se avalize o diagnóstico protelatório segundo o qual, por ser um espelho da sociedade, as prisões somente serão dignas para redimir quem delinquiu, quando dignas forem todas as relações ordenadoras da sociedade.

É tudo verdade.

Mas o que distingui uma biblioteca de um projeto político é justamente a construção das linhas de passagem que fazem do presente o fiador premonitório de um futuro melhor que a mera reprodução do passado.

É nesse ponto que cabe arguir a honestidade da aflição conservadora com a sorte dos encarcerados brasileiros.

O que ela prescreve para a sociedade que está do lado de fora guarda coerência com o sentimento de urgência em relação aos que estão confinados?

Mais de 95% do contingente carcerário brasileiro vem das camadas pobres e excluídas da população; não há levantamentos oficiais  –e isso já diz muito sobre o sistema--  mas se calcula que 90% dos detentos voltem a delinquir, ao recuperarem a liberdade.

Mais de 40% da população carcerária está estocada em prisões provisórias, onde a lotação passa de cinco presos por vaga.

Convenhamos, quando se intima o Estado brasileiro a cortar a gastança (leia-se, programas sociais) para assegurar o juro dos rentistas; ou se sabota o reajuste do IPTU, sonegando-se R$ 800 milhões à educação, saúde e mobilidade urbana, como fez a coalisão tucano-plutocrática em SP, que futuro carcerário estamos projetando para o Brasil do século XXI?

 Um futuro de prisões em massa dos excluídos, talvez?

Há precedentes.

Negros representam 12,5% da população  total norte-americana; mas somam 40% da maior população carcerária da face da terra (2,5 milhões de presos).

Estamos falando de um milhão de negros trancafiados -- contingente superior ao da população escrava dos EUA no século XIX.

O desemprego é um vínculo esférico a unir a condição de negro a de detento nos EUA.

A proporção de negros desempregado (12,6%) é quase o dobro da de brancos (6,6%) ; há 50 anos a diferença era de quatro pontos.

A pobreza é outro elo: cerca de 10 milhões dos 41 milhões de negros norte-americanos vivem na pobreza.

Quando a mídia conservadora e os menestréis do tripé convocam agencias de risco a endossarem o veredito de um Brasil aos cacos, que pontes  estamos erguendo para impedir a cristalização de igual destino?

Recapitulemos.

Quando a tempestade neoliberal despencou, em 2007/2008, o Brasil resistiu ao naufrágio com boias que exigiram gastos fiscais da ordem de R$ 400 bilhões.

O país criou mais de 12 milhões de empregos desde 2007. A título de comparação: Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal, coagidos a adotar o arrocho ortodoxo, viram desaparecer 15% de suas vagas desde 2012.

Encurralar a sucessão de 2014 em um ambiente contaminado pela represália iminente das agências de risco e dos investidores à ‘derrocada fiscal’ é o palanque daqueles que prometem fazer mais e melhor dobrando a aposta nos mandamentos do Consenso de Washington.

‘Não é que não deu certo; não foi bem aplicado’, já se afirma nas entrelinhas da emissão dominante.

Os que incitavam o governo a jogar o país ao mar em 2008,  agora retrucam que o custo de não tê-lo afogado na hora certa acarretou custos insustentáveis.

Colunistas isentos e economistas tucanos --de sabedoria comprovada pelos resultados obtidos em outras  crises, endossam o clamor pela eutanásia.

Recomenda-se vivamente beber a cota do dilúvio desdenhada irresponsavelmente de um gole só.

A indignação seletiva diante da barbárie nas prisões soa assim como uma nota fora do lugar no grande baile da restauração.

Ardilosa, talvez seja um predicado mais justo para a harmonia da orquestra que não desafina nunca.

O país precisa de investimento público e privado para adequar sua indústria e infraestrutura ao mercado de massa nascido nos últimos anos.

Nada que se harmonize do dia para a noite.

O crucial é erguer as linhas de passagem, pactuar  custos, definir prioridades, assumir ônus e  acordar prazos.

A se restituir a receita rentista, como exige o jogral incansável,  sobra uma pinguela estreita e oscilante para o futuro.

Um ano de juro da dívida pública equivale a 71 anos de merenda escolar diária para 47 milhões de crianças e adolescentes da rede pública brasileira.

É só uma ilustração.

Mas também é a síntese das proporções em jogo na arquitetura que será preciso escolher.

Na deles não cabe o Brasil.

Nem o que está fora das grandes -- quanto mais o que sangra dentro delas.




Fonte: http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/A-barbarie-e-o-seu-ventre/29957

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A linguagem seletiva do “mensalão”

por Venício A. de Lima no Observatório da Imprensa

Quando pouco ainda se falava sobre “história conceitual”, isto é, sobre a semântica histórica de conceitos e palavras, foi publicado o indispensável Palavras-Chave (um vocabulário de cultura e sociedade) [1ª edição 1976; tradução brasileira Boitempo, 2007], do ex-professor de Cambridge, Raymond Williams (1921-1988).

Ao analisar as mudanças na significação de 130 palavras-chave como ciência, democracia, ideologia, liberal, mídia, popular e revolução, Williams argumentava que as questões de significação de uma palavra estão inexoravelmente vinculadas aos problemas em cuja discussão ela esta sendo utilizada. E, mais ainda, que o uso dos diferentes significados de palavras identifica formas diversas de pensar e ver o mundo. Para ele, a apropriação de um determinado significado que serve a um argumento específico exclui aqueles outros significados que são inconvenientes ao argumento. Trata-se, portanto, de uma questão de poder.

Anos mais tarde, através do precioso Language and Hegemony in Gramsci do cientista político estadunidense, radicado no Canadá, Peter Ives (1ª edição 2004), soube-se que o filósofo sardenho desenvolveu o conceito de hegemonia – a formação e a organização do consentimento – a partir de seus estudos de linguística. Poucos se lembram de que, por ocasião da unificação italiana (1861), apenas entre 2,5% e 12% da população falavam a mesma língua. Daí serem previsíveis as enormes implicações sociais e políticas da unificação linguística, sobretudo o enorme poder de ajustamento e conformidade em torno da institucionalização de uma língua única que se tornaria a língua italiana.

Na verdade, não só as palavras mudam de significação ao longo do tempo, como palavras novas são introduzidas no nosso cotidiano e passam a constituir uma nova linguagem, um novo vocabulário dentro do qual se aprisionam determinadas formas de pensar e ver o mundo.

Mais recentemente, a leitura tardia do impressionante LTI – A linguagem do Terceiro Reich (1ª. edição 1947, tradução brasileira Contraponto, 2009), do filólogo alemão Victor Klemperer (1881-1960), dissipou qualquer dúvida que ainda restasse sobre a importância fundamental das palavras, da linguagem, do vocabulário para a conformação de uma determinada maneira de pensar. Está lá:

“O nazismo se embrenhou na carne e no sangue das massas por meio de palavras, expressões e frases impostas pela repetição, milhares de vezes, e aceitas inconscientemente e mecanicamente. (…) A língua conduz o meu sentimento, dirige a minha mente, de forma tão mais natural quanto mais eu me entregar a ela inconscientemente. (…) Palavras podem ser como minúsculas doses de arsênico: são engolidas de maneira despercebida e parecem ser inofensivas; passado um tempo, o efeito do veneno se faz notar” (p.55).

Vale a epígrafe do LTI retirada de Franz Rosenzweig (1886-1929): “A linguagem é mais do que sangue”.

Balanço do ano

As referências a Williams, Ives (Gramsci) e Klemperer são apresentadas aqui para justificar a escolha que fiz diante da necessidade de produzir um balanço de 2013 em relação ao setor de mídia.

O que de mais importante aconteceu no nosso país de 2005 para cá – vale dizer, ao longo dos últimos oito anos – e se consolidou em 2013 com as várias semanas de julgamento televisionado, ao vivo, no Supremo Tribunal Federal?

Estou convencido de que foi a formação de uma linguagem nova, seletiva e específica, com a participação determinante da grande mídia, dentro da qual parcela dos brasileiros passaram a “ver” os réus da Ação Penal nº 470, em particular aqueles ligados ao Partido dos Trabalhadores.

Ainda em 2006 (cf. capítulo 1 de Mídia: crise política e poder no Brasil; Editora Fundação Perseu Abramo) argumentei que uma das consequências mais visíveis da crise política foi o aparecimento na grande mídia de uma série de novas palavras/expressões como mensalão,mensaleiros,partidos do mensalão,CPI do mensalão,valerioduto,CPI chapa-branca,silêncio dos intelectuais,homem da mala,doleiro do PT,conexão cubana,operação Paraguai,conexão Lisboa,república de Ribeirão Preto,operação pizza,dança da pizza,dentre outros.

Em artigo publicado na Folha de S.Paulo, Fábio Kerche também chamou atenção para a recuperação pela grande mídia de dois conceitos clássicos de nossa sociologia política – coronelismo e populismo –, que passaram a ser utilizados na cobertura da crise política com nova significação desvinculada de suas raízes e especificidades históricas (cf. “Simplificações conceituais” in Folha de S.Paulo, 23/3/2006, p. A-3).

O verdadeiro significado dessas novas palavras/expressões, dizia à época, só pode ser compreendido dentro dos contextos concretos em que surgiram e passaram a ser utilizadas. São tentativas de expressar, de maneira simplificada, questões complexas, ambíguas e de interpretação múltipla e polêmica (aberta). Elas buscam reduzir (fechar) um variado leque de significados a apenas um único “significado guarda-chuva” facilmente assimilável. Uma espécie de rótulo.

Exaustivamente repetidas na cobertura política tanto da mídia impressa como da eletrônica, essas palavras/expressões vão perdendo sua ambiguidade original pela associação continuada a apenas um conjunto de significados. É dessa forma que elas acabam sendo incorporadas ao vocabulário cotidiano do cidadão comum.

Mas elas passam também a ser utilizadas, por exemplo, nas pesquisas de “opinião pública”, muitas vezes realizadas por institutos controlados pela própria grande mídia. Esse movimento circular viciado produz não só aferições contaminadas da “opinião pública” como induz o cidadão comum a uma percepção simplificada e muitas vezes equivocada do que realmente se passa.

Relacionei ainda as omissões e/ou as saliências na cobertura que a grande mídia oferecia da crise política – evidentes já àquela época –, protegendo a si mesma em relação à destinação de recursos publicitários e/ou favorecendo politicamente à oposição político-partidária ao governo Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT). Algumas dessas omissões foram objeto de denúncia do jornalista Carlos Dorneles, então na Rede Globo (13/10/2005) e do ombudsman da Folha de S.Paulo (23/10/2005).

De 2005 a 2013

Nos últimos oito anos, o comportamento da grande mídia não se alterou. Ao contrário. A crise política foi se transformando no “maior escândalo de corrupção da historia do país” e confirmou-se o padrão de seletividade (omissão e/ou saliência) na cobertura jornalística, identificado desde 2005.

Até 2005, “mensalão” era apenas “o imposto que pode ser recolhido pelo contribuinte que tenha mais de uma fonte pagadora. Se o contribuinte recebe, por exemplo, aposentadoria e salário e não deseja acumular os impostos que irão resultar num valor muito alto a pagar na declaração mensal, ele pode antecipar este pagamento por meio de parcela mensal” (ver aqui).

Nos últimos anos “mensalão” passou a ser “um esquema de corrupção” e tornou-se “mensalão do PT”, enquanto situações idênticas e anteriores, raramente mencionadas, foram identificadas pela geografia e não pelo partido político (“mensalão mineiro”). Como resultado foi se construindo sistematicamente uma associação generalizada, seletiva e deliberada entre corrupção e os governos Lula e o PT, ou melhor, seus filiados e/ou simpatizantes.

“Mensaleiro” passou a designar qualquer envolvido na Ação Penal nº 470, independentemente de ter sido ou não comprovada a prática criminosa de pagamento e/ou recebimento de mensalidades em dinheiro “sujo” com o objetivo de se alterar o resultado nas votações de projetos de lei no Congresso Nacional.

A generalização seletiva tornou-se a prática deliberada e rotineira da grande mídia e, aos poucos, as palavras “petista” – designação de filiado ao Partido dos Trabalhadores – e “mensaleiro”, se transformaram em palavrões equivalentes a “comunista”, “subversivo” ou “terrorista” na época da ditadura militar (1964-1985). “Petista” e “mensaleiro” tornaram-se, implicitamente, inimigos públicos e sinônimos de corruptos e desonestos.

O escárnio em relação aos “mensaleiros petistas” atingiu o seu auge com a prisão espetaculosa de alguns dos réus, por determinação do presidente do STF, no simbólico feriado da Proclamação da República (15 de novembro), antes do transito em julgado da Ação Penal nº 470, com ampla cobertura ao vivo das principais emissoras de televisão. Ofereceu-se assim a oportunidade para que articulistas da grande mídia passassem a citar seletivamente os nomes dos petistas detidos precedidos do adjetivo “presidiário”.

Da mesma forma, o que poderia ser questionado como uma prisão arbitrária (antes do trânsito em julgado; exposição desnecessária em périplo aéreo por três cidades do país; regime fechado para condenados em regime aberto; substituição arbitrária do juiz da vara de execuções penais de Brasília, etc.) foi se transformando em “um privilégio dos mensaleiros petistas”.

Na cobertura oferecida pela grande mídia esses “privilégios” foram identificados pelas visitas incialmente permitidas em dias diferentes daqueles dos demais detidos no complexo da Papuda; pela solicitação de regime diferenciado em função da saúde precária de um dos “mensaleiros petistas” e pela remuneração elevada do emprego oferecido (em seguida descartado) a outro.

Sinais de intolerância

Não é necessário mencionar aqui as inúmeras e pendentes questões – inclusive jurídicas – envolvendo o polêmico julgamento da Ação Penal nº 470 e os interesses político-partidários em jogo relativos a situações idênticas e anteriores que, todavia, ainda não mereceram a atenção correspondente do Poder Judiciário e, muito menos, da grande mídia.

O ano de 2013 certamente poderá ser lembrado como aquele em que ocorreu o julgamento da Ação Penal nº 470 e pelo desmesurado papel que a grande mídia desempenhou em todo o processo. Um vocabulário seletivo específico e uma linguagem correspondente se consolidaram em relação aos eventos nomeados pela nova palavra “mensalão”.

Tendo como referência os ensinamentos de Williams, Ives (Gramsci) e Klemperer, vale a pergunta: até que ponto este vocabulário e esta linguagem influenciam a maneira pela qual alguns dos envolvidos passaram a ser “vistos” pela população brasileira (ou parte dela) e contribuem para criar um clima político não democrático, de intolerância, de ódio e de recusa intransigente a sequer ouvir qualquer posição diferente da sua?

Para além da formação seletiva de um vocabulário e de uma linguagem específicas, bastaria relembrar as declarações do ministro Celso Melo por ocasião do julgamento dos embargos infringentes: “Nunca a mídia foi tão ostensiva para subjugar um juiz” (ver aqui).

Vale a pena repetir com Victor Klemperer:

“Palavras podem ser como minúsculas doses de arsênico: são engolidas de maneira despercebida e parecem ser inofensivas; passado um tempo, o efeito do veneno se faz notar”.