sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Em Londres, Lula visita abertura da exposição do “caçador de luz” Sebastião Salgado


                                                              Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula




O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou nesta terça-feira (19) da abertura da exposição Genesis, de Sebastião Salgado. Amigo de longa data do fotógrafo mineiro, Lula lembrou uma frase do escritor brasileiro Eric Nepomuceno, que se referiu a Sebastião como “um caçador de luz” e agradeceu ao convite  para abrir “esta deslumbrante, espantosa exposição de seu mais recente trabalho” no Museu de História Natural de Londres.

Para baixar fotos em alta resolução, visite o Picasa do Instituto Lula.

Para acompanhar mais sobre a exposição e o trabalho de Sebastião Salgado, visite a página da Genesis no Facebook: https://www.facebook.com/SebastiaoSalgadoGenesis

Leia abaixo o discurso completo de Lula

Eu não me canso de repetir que a grande bênção do Brasil, em seus quinhentos anos de existência, não reside apenas em suas infinitas riquezas naturais, em seu solo fértil ou nas jazidas de petróleo que acabamos de descobrir, a sete mil metros de profundidade do nosso mar azul.

O melhor presente que o destino nos deu é a nossa gente. São os duzentos milhões de brasileiros que habitam nosso território.

E cada vez que refletimos sobre esse povo maravilhoso, é inevitável que nosso olhar recaia sobre o trabalho e a figura de alguns dos mais ilustres filhos do Brasil.

Entre eles está, em um lugar de honra, o fotógrafo Sebastião Salgado, que me honrou com o convite para abrir esta deslumbrante, espantosa exposição de seu mais recente trabalho.

Mesmo convertido em cidadão do mundo, reconhecido e celebrado nos quatro cantos do planeta, Sebastião Salgado – ou simplesmente Tião Salgado, como carinhosamente os amigos o tratam – nunca deixou de ser o suave brasileiro de Aimorés, a linda cidade mineira debruçada às margens do Rio Doce.

Tangidos da pátria pela mão implacável da ditadura militar, em meados dos anos sessenta Tião e Lelinha, sua mulher e inseparável parceira, foram obrigados a se exilar na Europa. E foi aqui que o economista especializado em cafeicultura deu lugar a um dos mais sensíveis e talentosos artistas do nosso tempo.

Vinte anos atrás, quando as fotos da série intitulada “Trabalhadores” estavam sendo expostas em Madri, um crítico terminou sua resenha em um jornal com uma frase que ficou gravada na memória de todos: “Muito obrigado, Sebastião Salgado, por nos surpreender a cada dia”.

E é nisto que eu penso cada vez que vejo fotos dele publicadas em jornais ou revistas. Elas nos surpreendem a cada dia, a cada olhar. Naquelas imagens, e nestas impressionantes imagens aqui expostas, está sua maneira de ver o mundo e de ver a vida. Em cada fotografia de Salgado está impressa sua fé obstinada no ser humano, na capacidade do homem de sonhar, mesmo nas mais perversas situações. Uma irremediável fé na vida.

São fotos que parecem dizer: “Esta é a vida da humanidade, é a minha vida, e não vou abandoná-la”. Sua marca registrada é o seu profundo compromisso social.

Dias atrás um amigo me mostrou uma entrevista dada por Salgado no final dos anos 90, quando ele montava uma exposição de 360 fotos que lhe consumiram anos de trabalho, muitas vezes em condições absolutamente inóspitas. Um detalhe técnico me chamou a atenção. Salgado contou que sua câmera operava na velocidade de 250 avos de segundo – quatro milésimos de segundo! – cada vez que ele apertava o obturador. O autor da reportagem fez as contas e descobriu que aquelas 360 fotos, produzidas em intermináveis meses de trabalho, significavam 1,44 segundos de história do ser humano. Em menos de dois segundos Sebastião Salgado captava e punha diante de nossos olhos todo o esplendor e toda a tragédia da vida humana.

Tornou-se comum identificar a autoria de suas fotos mesmo que elas não estejam assinadas. Cada uma delas é o resultado de uma sensibilidade aguda e sem limites, de uma técnica exemplar e também de uma consciência social inquebrantável. Sebastiao Salgado é um fotógrafo de compromisso, um compromisso sem retorno, sem volta.

Quem se der ao privilégio de acompanhar seus álbuns, desde o “Outras Américas”, de 1986, passando por “Trabalhadores”, “Terra”, “Êxodo” e “África”, verá que não são imagens isoladas, mas fotos que contam uma mesma história. Sua maneira de fotografar é única, e é subjetiva. Não são apenas imagens gravadas no papel. São parte do que ele conheceu e viveu. Quando revela uma foto, ele revela a vida. A observação da obra de Salgado nos permite entender por que o escritor brasileiro Eric Nepomuceno se referiu a ele como “um caçador de luz”.

Num mundo de trevas, Sebastião Salgado caça a luz.

Neste trabalho que a partir de agora estará aberto aos britânicos, Salgado também conta uma história – a história do nosso planeta. Ele foi buscá-la nos lugares mais remotos, onde a paisagem não foi tão transformada, onde os habitantes ainda vivem de acordo com culturas ancestrais. Uma vez mais, ele foi à procura de reminiscências. Uma vez mais ele congela o tempo em suas fotografias para nos fazer pensar. Para nos trazer revelações sobre nós mesmos, a nossa história, a história do bicho humano, a história do nosso planeta, da nossa vida.

Sebastião Salgado e eu viemos do mesmo país, o Brasil. Viemos de um país que continua apostando na vida, na luz e no futuro. E ambos continuamos apostando na capacidade humana de sonhar e transformar a realidade.

A você, meu querido Tião, à Lelinha, a seus filhos Juliano e Rodrigo, trago o abraço apertado de 200 milhões de brasileiros que se orgulham muito de serem seus compatriotas.
Muito obrigado.


Fonte: http://www.institutolula.org/em-londres-lula-visita-abertura-da-exposicao-do-cacador-de-luz-sebastiao-salgado/#.Ur4SChBTtjp

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Prefeitos de todo o país se dizem perplexos com golpismo do STF



Prefeitos apoiam Haddad e se dizem perplexos com JB

Frente Nacional de Prefeitos divulgou uma nota dura contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que manteve a liminar contra o aumento do IPTU em São Paulo; "postura é mais um indicativo da crescente e indesejável judicialização da política e uma intromissão em assuntos do cotidiano das cidades", diz o texto; segundo os prefeitos, decisões desse tipo podem até fazer com que as cidades mais importantes do País descumpram a Lei de Responsabilidade Fiscal

247 - Depois de se indispor com colegas da magistratura, que já divulgaram várias notas contra seu estilo imperial, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, também atraiu a ira dos prefeitos. Numa nota dura, a Frente Nacional dos Prefeitos condena a decisão do chefe do STF, Joaquim Barbosa, que manteve a liminar contra o aumento do IPTU, em São Paulo.

Os prefeitos lembram que está é uma questão municipal e que não deveria sequer passar pelo STF. "Desde que submetidas a apreciação das respectivas Câmaras Municipais, os governantes locais têm autonomia constitucional e dever legal de promover as adequações necessárias nos tributos municipais, dentre os quais o IPTU", diz o texto.

A Frente também argumenta que, em consequência da "indesejável judicialização da política", cidades importantes podem acabar sendo empurradas, pelo próprio STF, para o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Leia, abaixo, a íntegra da nota:

Confira a seguir a íntegra da nota:

Prefeitos estão perplexos diante da posição do STF na questão do IPTU de São Paulo

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de manter a liminar, concedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que suspende o aumento do IPTU na cidade de São Paulo deixou perplexos prefeitos de todo o país. Para a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), tal a postura é mais um indicativo da crescente e indesejável judicialização da política e uma intromissão em assuntos do cotidiano das cidades.

Desde que submetidas a apreciação das respectivas Câmaras Municipais, os governantes locais têm autonomia constitucional e dever legal de promover as adequações necessárias nos tributos municipais, dentre os quais o IPTU. Além disso, se por um lado o poder judiciário, Estadual e Federal, no uso das suas atribuições, determina uma série de obrigações corriqueiras para os municípios nas áreas da saúde, educação, habitação, assistência social, meio ambiente, dentre outras, o mesmo poder tem limitado a prerrogativa de arrecadar dos entes municipais.

Dessa forma, e como determina a Lei de Responsabilidade Fiscal, as contas não têm como fechar. Especialmente neste momento de crescentes demandas na área de mobilidade urbana, esse tipo de decisão levará vários municípios a graves colapsos financeiros. Segundo dados da Secretaria do Tesouro Nacional, compilados pela FNP, a participação do IPTU na receita dos municípios brasileiros vem perdendo importância a cada ano. Em 2003 o IPTU representava 6,7% da Receita Corrente do conjunto dos municípios brasileiros. Em 2012 representou apenas 5,2%.

É preciso enfrentar o desafio de alterar a injusta situação do contribuinte brasileiro, proporcionando a quem menos ganha que pague menos tributos, como foi o caso da iniciativa da prefeitura de São Paulo, que propõe a readequação das alíquotas de acordo com o padrão e a localização dos imóveis, desonerando ou mesmo isentando aqueles que pouco ou nada têm. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), no Brasil, enquanto aqueles com renda mensal familiar de até 2 salários mínimos estavam, em 2004, sujeitos a uma carga tributária total de 48,8% da sua renda, na outra ponta, aqueles com renda superior a 30 salários mínimos, comprometiam 26,3% da renda com impostos.

Já segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), essa situação está diretamente relacionada a baixa participação dos impostos patrimoniais na arrecadação de impostos no Brasil (1,21% do PIB em 2002) se comparada com outros países desenvolvidos (entre 1,5% e 4,5% do PIB). É por essas razões que a FNP defende o PLP 108/2011 que institui a obrigatoriedade da revisão da Planta Genérica de Valores a cada dois anos para todos os municípios brasileiros.

Além de cortar gastos e promover ajustes nas despesas, fazendo cada vez mais com menos, será necessário serenidade e muito debate para reverter essa tendência desastrosa para os governos municipais: mais responsabilidades versus menos recursos. Por isso, a FNP reafirma seu repúdio às decisões que intervém nas administrações locais, transformando o trabalho cotidiano e zeloso dos governantes numa gradativa judicialização.
 
 
 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Mídia tenta abafar trensalão

Quem abrir os principais jornais do país hoje, quinta-feira, esquecerá que o partido que governa São Paulo há mais de vinte anos vivencia um dos maiores escândalos de sua história. No Globo, não há nenhuma menção na capa, e a única notícia no miolo vem com título: “Alckmin pede pressa no caso Siemens”. Ou seja, o viés do jornal em relação ao partido acusado de receber propina é defender o partido. E depois vem falar em isenção.

O governador de São Paulo informa que não afastará os secretários Edson Aparecido (Casa Civil) e Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico). E nenhum colunista rebate a disposição guerreira de Alckmin com observações de que a situação deles ficou “insustentável”, nem repercute comentários da oposição ao governo de São Paulo, como manda o bom jornalismo.

O Globo, aliás, dá a matéria nitidamente de má vontade. Por ele, esse caso nem existia. A matéria é totalmente feita com frases como “segundo a Folha de São Paulo” e “segundo o Estado de São Paulo”, o que significa que a empresa não escalou equipes próprias para cobrir um dos maiores casos de corrupção da história do país, e que movimentou valores bem superiores ao chamado “mensalão”. E não sou eu que digo, e sim Suzana Singer, ombudsman da Folha, em sua última coluna:

“E essa [cobertura do 'trensalão'], que envolve um desvio de dinheiro bem maior que o do mensalão petista, é uma delas.”
 
Bem, se o “mensalão” foi o maior escândalo de corrupção da história do Brasil, segundo o Globo, então o trensalão deve ter sido o maior das galáxias… Nem isso comoveu Ali Kamel a investir mais na cobertura do evento. Ele está mais preocupado em processar blogueiros que o chamam de “sacripanta”. Merval Pereira, então, foge do assunto como o diabo da cruz. Tudo chibéu mentido a chibante!

No Estadão, cujos repórteres vêm fazendo uma boa cobertura do caso, nada na capa; no miolo, apenas uma matéria com declarações do governador sobre a necessidade de uma “investigação rápida”:

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Parece até combinado. A Folha segue a mesma linha: título para o governador defender os seus, nenhum contraponto da oposição ao governo do estado e, sobretudo, nenhuma informação ou nova denúncia que pudesse “encorpar” a matéria, conferindo-lhe o peso que um escândalo desse porte merecia. E quando publica as fotinhas dos “políticos acusados”, a Folha esquece os dois mais importantes: José Aníbal e Aloysio Nunes.

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O editorial da Folha é fofo, a começar pelo título, que é mais light que chá de hortelã sem açúcar: “Mudança de patamar”. Um trechinho:
Dois membros do primeiro escalão do governo Alckmin (seu chefe da Casa Civil, Edson Aparecido, do PSDB, e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Garcia, do DEM) e dois deputados (um federal, Arnaldo Jardim, do PPS, e outro estadual, Campos Machado, do PTB) agora são acusados de receber propina.
A suspeita em relação aos quatro ainda é preliminar, até porque decorre, por ora, de um único acusador cujo comportamento tem se mostrado no mínimo sinuoso.

A principal testemunha de acusação, cujo nome sequer é citado, agora tem comportamento “sinuoso”. Haja criatividade! Acontece que a testemunha, que tem nome, Everton Rheinheimer, não é um político querendo se vingar, como era Roberto Jefferson, que admitiu sentir os “piores instintos” contra Dirceu. É um alto executivo da mesma multinacional envolvida nos escândalos. E sua postura está hoje amparada pela própria Siemens, que recebeu condenações duras em vários países, a começar pela Suíça, e tenta reverter o dano à sua imagem. O depoimento de Rheinhemer corrobora uma série de documentos, auditorias, investigações, devassas, em posse das autoridades. Não é um testemunho, em absoluto, que possa ser desmerecido como “preliminar” ou “sinuoso”!

A matéria da Folha traz apenas repercussão entre nomes do próprio PSDB, como se o jornal fosse um mero informativo interno do partido.

O trensalão tem o mérito de desmascarar a imprensa brasileira. Ela ainda tem alguns bons repórteres dispostos a investigar. Mas a direção dos jornais, nitidamente, está tentando abafar o escândalo.

Espera-se que o ministro da Justiça, chamado de “vigarista” pelos acusados de receberem propina do trensalão, não se limite a responder com uma queixa-crime contra José Aníbal. Não interessa ao Brasil, ministro, apenas a sua questão pessoal. Agora que o caso está sendo investigado pela Polícia Federal, e foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, queremos ver o empenho profundo das autoridades. Não o mesmo empenho que vimos no caso do mensalão, porque não queremos ver repetido a postura viciosa e tendenciosa de autoridades submetidas pela mídia. Se bem que desta vez não haverá pressão midiática.

Não queremos ver ninguém condenado sem provas ou por um abstrato “domínio do fato”, como fizeram com os réus da Ação Penal 470. Queremos simplesmente uma investigação séria, seguida de condenações feitas conforme a lei. E se algum condenado tiver problemas cardíacos, e precisar de prisão domiciliar, não repetiremos o comportamento psicótico da grande mídia e seus vira-latas furiosos, sedentos por sofrimento e sangue. Defenderemos os direitos humanos e que o Estado seja magnânimo e atencioso.

A vingança do campo popular e progressista contra a mídia conservadora e sádica não será na mesma moeda. Não será uma vingança, aliás. Será simplesmente uma vitória – limpa, justa e democrática. Que será seguida por debates profundos sobre a necessidade de assegurarmos mais direitos informativos aos cidadãos, e menos poder à corporações de mídia sem comprometimento verdadeiro com valores democráticos e direitos humanos; e uma reforma constitucional que reestabeleça o equilíbrio entre o poder soberano dos parlamentos contra decisões monocráticas do judiciário.

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Fonte:  http://www.ocafezinho.com/2013/12/12/midia-tenta-abafar-trensalao/

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Caso Rosalba: a justiça e as urnas

Enviado por Miguel do Rosário on 11/12/2013 – 10:02 am 



Alguns leitores me alertaram para um fato muito grave. A destituição da governadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN)), através de uma canetada do TRE, não causou grande comoção porque a dita já era o que se chama “pata manca”. Seu nível de aprovação estava abaixo de zero. No entanto, mais uma vez, testemunhamos o avanço do judiciário sobre a política.

A matéria que eu reproduzi, em post anterior, diz que a “governadora Rosalba Ciarlini é acusada de ter utilizado o avião oficial do Estado para viajar a Mossoró e participar da campanha”.

Essa acusação está me parecendo um tanto inconsistente para justificar a derrubada de uma governante. De qualquer forma, a única fórmula realmente democrática para se afastar um governador é através do Legislativo do estado.

De resto, estamos abrindo caminho para a proliferação de golpes judiciários Brasil a fora, com possibilidade mesmo de um golpe contra o Palácio do Planalto.

*

O mesmo raciocínio vale para a votação, esta semana, no Supremo Tribunal Federal, da legalidade ou não de doações de empresas privadas a partidos políticos. Muitos colegas da esquerda vêem a votação como “histórica”, mas acho que, mais uma vez, estamos entregando a soberania popular em mãos de juízes que não nos representam. Eu também sou contra doações de empresas para campanhas políticas. Mas isso deveria ser debatido e decidido no Congresso Nacional, pelas lideranças partidárias.

O STF, ao meter o bedelho, apenas irá atrapalhar o que já está sendo debatido democraticamente, que é a reforma política e o financiamento público exclusivo de campanha.

O judiciário já fez várias besteiras, recentemente, quando se meteu a legislar sobre fidelidade partidária. Fez uma coisa, teve que voltar a atrás, mudou de novo, e ao cabo teve que obedecer à orientação do Congresso, o que é a única coisa certa a fazer.

Não estou dizendo que o Congresso é “melhor” que o Judiciário. Eventualmente, o Judiciário pode tomar decisões até mais acertadas, e, seguramente, pode agir de forma mais rápida. Afinal, são apenas 11 ministros no STF, contra 513 deputados no Congresso e mais 81 senadores. O Congresso não é “melhor”, mas é o único que representa a soberania popular. O Congresso é a democracia, com seus vícios e virtudes. O STF representa a nossa elite, com seus vícios e virtudes. O STF pode, por exemplo, num gesto de magnamidade liberal, aceitar o aborto de fetos sem cérebro; mas, no dia seguinte, sob pressão da mídia, pode derrubar um presidente.


EUA, França, Uruguai e Argentina estão nos mostrando que a melhor forma de avançar, nos costumes, é via Legislativo. Os EUA liberaram produção e consumo de maconha em dezenas de estados. O Congresso francês acaba de aprovar o casamento gay. O legislativo uruguaio chancelou ontem a lei mais moderna do mundo sobre a maconha. A Argentina, também via Congresso, igualmente aprovou diversas leis progressistas sobre drogas, casamento homossexual. Sem falar das leis de mídia, debatidas e aprovadas pelos legislativos de vários países latino-americanos.

O STF brasileiro foi chamado pelo grande constitucionalista português, Canotilho, de o mais poderoso do mundo. Já vimos os absurdos e as mentiras que ele chancelou durante a Ação Penal 470.

O ex-presidente do STF, Ayres Brito, no afã de condenar os réus, afirmou que a multinacional Visanet era tão estatal como a Embrapa, só porque tinha “Brasileira” no nome: Companhia Brasileira de Meios de Pagamento.

Temos que tomar muito cuidado. A direita pode muito bem “vender” hoje a cabeça de uma governadora do seu campo, com vistas a “comprar” a cabeça de um presidente da república amanhã.

A política brasileira precisa ser desjudicializada. E o nosso STF precisa ser “desempoderado”, em prol do parlamento e do povo (via plebiscitos). A democracia pressupõe o voto e ouvir a voz dos cidadãos. Juízes, ainda mais essas figuras midiáticas e desqualificadas que nós temos, não podem substituir a soberania popular!


 
 
 

 
 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Os intocáveis do PSDB




Se Dante Alighieri fosse vivo, poderia reescrever a Divina Comédia trocando o Paraíso pelo PSDB. É lá que os políticos descansam felizes, intocáveis, seguros, ao lado do Deus-mídia.

A coisa funciona assim. Se um assessor petista é pego com dinheiro na cueca, todas as fúrias do mundo se desatam contra o pobre coitado. O próprio presidente do partido é forçado a renunciar, tamanha a pressão. A coisa não para aí. O presidente do partido é achincalhado por anos na imprensa, e por fim, condenado e enviado a um presídio, onde é humilhado por juízes e juntas médicas, as quais desdenham de seus graves problemas cardíacos. Oito anos depois, lá está o político petista, num apartamentozinho de 50 metros quadrados, em prisão domiciliar, com a mídia ainda tentando lhe destruir a moral dia e noite.

Quando o funcionário tem alguma ligação com o PSDB, contudo, podem encontrar, em sua casa, plutônio enriquecido com capacidade para destruir metade de São Paulo, junto com uma mala contendo meio bilhão de dólares, um monte de cartas assinadas por comandantes da Al Qaeda. A mídia e a polícia irão concluir que o funcionário foi vítima de algum complô, e que, sobretudo, não há envolvimento nenhum do partido na história.

De certa forma, tem sido assim com o trensalão. A quantidade de provas, confissões, testemunhas, documentos, auditorias, investigações internacionais, e-mails, é impressionante. Todas confirmam o envolvimento de autoridades de governos tucanos nas mutretas (que alguns chamam cartel) das empresas que forneciam trens e acessórios ao estado de São Paulo. Esta semana, a IstoÉ aparece com novas revelações. A grande mídia, no entanto, permaneceu muda. Quer dizer, no domingo, a Folha atacou a… testemunha e hoje a única notícia no jornal O Globo é que a “comissão de ética” pediu explicações ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que cometeu o “crime” de encaminhar uma denúncia à Polícia Federal.

Para completar o quadro de beatitude tucana, um delegado da Polícia Federal, Leonardo Damasceno, afirmou ontem que a família Perrella não tem ligações com a droga.

Ora, essa. A droga estava em helicóptero do deputado estadual Gustavo Perrela, filho do senador Zezé Perrella, ambos grandes aliados de Aécio Neves. Não apenas aliados. A empresa deles, Limeira Agropecuária, ganhou três contratos sem licitação do governo de Minas Gerais, durante a gestão de Aécio.
O piloto do helicóptero, preso durante a apreensão da droga, era assessor de Gustavo Perrella.

O delegado, nem o jornal, não informaram a quem pertence a cocaína. E tudo fica por isso mesmo. Enquanto isso, a Folha de São Paulo comemora que um tetraplégico preso na Papuda, que fora flagrado em casa com 60 gramas de maconha, teve sua prisão domiciliar negada, transformando isso em mais um fato para humilhar e prejudicar José Genoíno – afinal, ele não é tetraplégico e pleiteia prisão domiciliar.

É assim: um tetraplégico pode ser preso por causa de 60 gramas de maconha. E tem prisão domiciliar negada! Genoíno é condenado sem que haja qualquer prova contra ele de que “comprou” deputados. Tudo que ele fez foi assinar empréstimos, devidamente quitados, para pagar dívidas do PT.

Há rumores, cada vez mais consistentes, de que uma grande emissora de TV recebeu mais de R$ 600 milhões do Banco Rural (o mesmo cujos empréstimos ao PT motivaram a prisão de Genoíno), sendo que este dinheiro veio de paraíso fiscal, mas aí ninguém faz nada. Joaquim Barbosa é nosso herói!

Quando é um político ligado ao PSDB, nem meia tonelada de cocaína bastam para fazer um escândalo.
A imprensa, tão feroz e tão investigativa quando se trata de qualquer coisa ligada ao PT, dessa vez não mostrou nenhum interesse. Ninguém pesquisou a vida do piloto. Ninguém investigou a vida de Gustavo, nem do senador. Todos foram comoventemente blindados na mídia.

Teremos que repetir uma piada que vem correndo as redes: o helicóptero era dos Perrella; o piloto era duplamente empregado dos Perrela (funcionário da Limeira e assessor do deputado); o combustível era abastecido com verba pública dos Perrella (pai e filho usaram dinheiro parlamentar para isso); mas a droga era do… Espírito Santo!

Francamente, eu estou ficando até com pena da família Perrella. Afinal, isso podia acontecer com qualquer um, né? A gente compra um helicóptero e, de repente, ele aparece com meia tonelada de pó. Que culpa tem o dono se isso acontece? Pó e helicóptero são dois elementos que se atraem inexoravelmente. É difícil evitar que essa união se realize.
 
 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

“Lendo a imprensa, a gente pensa que o Brasil acabou”


Na Universidade Federal do ABC, na Grande São Paulo, ex-presidente Lula recebe título de doutor honoris causa e comemora longa lista de conquistas que o governo teve com o PT no comando, como o crescimento da renda, a diminuição da miséria, índices de desemprego "menores que o dos Estados Unidos e da Europa" e controle da inflação; "a presidenta Dilma está preparando o País para um novo salto", anunciou ainda o petista, que criticou a imprensa e suas previsões pessimistas: "complexo de vira-latas"


4 de Dezembro de 2013 às 17:20


O ex-presidente Lula criticou nesta quarta-feira 4, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, as análises pessimistas sobre o País publicadas na mídia tradicional. Depois de comemorar uma longa lista de conquistas do governo depois que o Partido dos Trabalhadores assumiu o poder, comentou que, apesar disso, "lendo a imprensa, a gente pensa que o Brasil acabou". Ele também classificou o tom dos veículos de comunicação como sendo o de "complexo de vira-latas".

Lula recebeu nesta tarde o título de doutor honoris causa pelo Universidade Federal do ABC. "Este é o título mais marcante e mais importante da minha vida", declarou. A história da Federal do ABC, de acordo com o ex-presidente, "é um exemplo de luta política vitoriosa" e esse título, "uma homenagem a todos as pessoas que lutaram para que essa universidade exista". Lula afirmou que "nenhum país pode abrir mão de um ensino superior de qualidade". Segundo ele, "isso significaria abrir mão da soberania na geração de conhecimento".

No discurso bem humorado, o petista citou números em diversas áreas, como a entrega de casas populares pelo programa Minha Casa Minha Vida, a retirada de milhões de brasileiros da extrema pobreza, o crescimento da renda da população, os baixos índices de desemprego - "menores que o dos Estados Unidos e da Europa", como citou - e o controle da inflação - "sempre abaixo da meta estipulada pelo governo". Lula anunciou ainda que a presidente Dilma Rousseff, presente no evento, "está preparando o País para um novo salto".

Lula exaltou a atenção dada à educação nos últimos dez anos e ressaltou que agora todo jovem brasileiro tem a oportunidade de se formar, algo antes visto como impossível. "Em matéria de educação, tudo é prioritário: da creche ao doutorado; da alfabetização ao ensino técnico; da merenda escolar ao laboratório científico". A Universidade, segundo ele, "pode e deve localizar novos desafios". "O Brasil merece ter uma universidade como essa, que é exemplo para a comunidade e para o País", afirmou.

Lula comemorou o fato de ser homenageado na região em que uma indústria lhe deu emprego, onde conheceu sua atual esposa, Marisa, e cresceu politicamente. Foi em São Bernardo do Campo que ele iniciou suas atividades no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Ele recebeu a homenagem nesta tarde ao lado da presidente Dilma, que não discursou, de Marisa e do ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

Abaixo, texto publicado no site do Instituto Lula sobre a homenagem:


"Este é o título mais marcante e importante da minha vida", exaltou Lula ao receber honoris causa da UFABC

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta quarta-feira (4) o primeiro título de doutor honoris causa concedido pela Universidade Federal do ABC, "em reconhecimento à sua atuação decisiva na criação da UFABC, bem como à sua incansável dedicação às causas do povo brasileiro", ao lado da presidenta Dilma Rousseff, do ministro da Educação Aloizio Mercadante e de sua esposa Dona Marisa Letícia.

Lula afirmou que sem diminuir nenhuma outra homenagem já recebida por ele, "este é o título mais marcante e importante da minha vida, porque aqui é minha casa". A importância dada à educação nos últimos dez anos, foi exaltada por Lula. "Em matéria de educação, tudo é prioritário: da creche ao doutorado; da alfabetização ao ensino técnico; da merenda escolar ao laboratório científico". Lula disse ainda que agora todo jovem brasileiro tem a oportunidade de se formar, algo antes visto como impossível.

O ex-presidente falou sobre o movimento para a criação da UFABC que começou em 1980 com o movimento estudantil e ganhou força em 88 com a com a eleição de prefeitos petistas em São Bernardo, Santo André, e Diadema, mas só foi sancionada em 2005 em seu primeiro mandato e hoje tem mais de 10 mil alunos. "Uma das maiores alegrias que tive, como presidente, foi ter sancionado a Lei 1.145/05, que instituiu a nossa Universidade". Lula afirmou ainda que a história da federal do ABC, "é um exemplo de luta política vitoriosa, porque mobilizou a sociedade em torno de uma causa justa, vencendo todos os obstáculos".

O padrinho da homenagem, prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho se emocionou ao homenagear Lula por ter sido somente em seu governo a criação a universidade, que segundo ele já reflete bons resultados em toda região do ABC. O reitor da UFABC, professor Helio Waldman lembrou que o ex-presidente "não aceitou nenhum título de honoris causa nos seus dois mandatos de presidente, esperou ser um cidadão comum para aceitar. E esse é o primeiro que concedemos, um momento muito esperado por nós. Conceder a alguém que liderou e lidera as mudanças sociais que estão mudando nosso país".

Homenagem dos estudantes

Os estudantes da UFABC, Guilherme Afonso Gomes Santos, aluno de Ciências e Humanidades e Gabriel Camargo, presidente do Diretório Central os Estudantes da UFABC, filhos de sindicalistas do ABC, prestaram uma homenagem ao ex-presidente Lula durante a cerimônia.

Guilherme emocionou Lula ao relembrar a luta dos trabalhadores do ABC e ao agradecer o ex-presidente por "não ter se esquecido da classe trabalhadora durante seus dois mandatos, como presidente da República. "Essa solenidade não é um favor, nem um comício, mas sim o reconhecimento aos serviços prestados à nossa região, ao Brasil e ao povo brasileiro, e principalmente pelo empenho na criação de nossa universidade. Parabéns Lula".

Já Gabriel exaltou a possibilidade "dos filhos da classe operária terem direito à universidade". O estudante que é filho de um metalúrgico e neto de um gari afirmou que com orgulho irá levar o primeiro diploma universitário para sua família e agradeceu Lula. "Sou só um caso aqui dos vários filhos da classe trabalhadora e que veem a UFABC, como um presente. A nossa vida foi transformada. Obrigado Lula por toda sensibilidade e empenho por todos nós alunos da Federal do ABC", Gabriel.

Lula afirmou que a fala dos dois estudantes "valeram a viagem da presidenta Dilma a São Bernardo do Campo".



Fonte: http://www.brasil247.com/+gj7qw

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Você está assistindo ao primeiro Big Brother Penal da história



O que mais querem esses impérios de comunicação que vão deixando cada vez mais claro que estão muito longe de se satisfizer com as condenações sem provas (by Ives Gandra Martins) e com os consequentes encarceramentos dos réus do julgamento do “mensalão” filiados ao PT?

Há mais de dez dias que José Genoino e José Dirceu – os alvos exclusivos do noticiário – estão privados da liberdade, mas nem jogá-los extemporaneamente na prisão fez parar o bombardeio midiático que ora sofrem.

Desde o dia 16 deste mês que a prisão desses dois vem sendo coberta sem parar, numa espécie de Big Brother Penal em que o dia a dia dos dois petistas foi transformado.

Apesar de mais de uma dezena de condenados da ação penal 470 ter sido presa, o noticiário se concentra, exclusivamente, nos dois Josés. E sempre com um só viés, o de tornar ainda mais dura a vida deles no cárcere.

A rotina da cela em que estão confinados os petistas, as vidas íntimas das famílias deles e até o emprego que Dirceu conseguiu para sair do regime fechado para o semiaberto alimentam a sede de sangue do noticiário.

Genoino apareceu em um telejornal com o peito desnudo, deitado numa cama de hospital, em uma situação para lá de humilhante. O hotel em que Dirceu irá trabalhar teve sua imagem exposta em uma matéria do Jornal Nacional que exibiu até o registro em carteira e o salário que ele receberá.

Além da divulgação do nome da empresa em que Dirceu poderá trabalhar para “desfrutar” do regime semiaberto, do salário que receberá e do local em que fica essa empresa, a mídia ainda divulga informações sobre os empregadores do petista.

A empresa em questão, seus proprietários, seus funcionários, seus clientes e o petista recém-contratado foram todos expostos a riscos. Dada a tensão política que eclodiu no país após os petistas terem sido presos, todos podem ser alvo de algum tipo de violência.

Intimidar os que cometeram o crime de dar emprego àquele para o qual a mídia parece não aceitar nada menos do que a pena de morte, porém, não é suficiente.

A junta médica formada a pedido do presidente do STF, Joaquim Barbosa, para avaliar se Genoino pode permanecer na cadeia, produziu um laudo que dificulta a compreensão da conclusão clara de que não pode.

O laudo propositalmente confuso emitido por médicos rebelados contra o governo do PT devido ao programa Mais Médicos diz que, “até onde for possível”, Genoino deve ser poupado de “estresse psicológico”, pois este pode gerar efeitos “psicossomáticos” como os que, semana passada, tiraram-no da prisão e o colocaram no hospital.

A mídia soube usar um laudo confuso que só reconhece tacitamente que Genoino não pode ser submetido ao estresse de uma prisão; divulgou que o estado de saúde momentâneo dele “não é grave” sem esclarecer que, obviamente, isso mudará no dia a dia da prisão.

Já se antevê, portanto, que as prisões de Dirceu e Genoino continuarão sendo usadas politicamente por muito tempo, ainda. Serem presos deveria encerrar o caso, mas como a militância petista não aceita essas prisões e protesta, a mídia, em retaliação, trata de exacerbar as punições.

Não se tem notícia, neste país ou no mundo, de cobertura tão meticulosa e ampla do dia a dia do cumprimento de penas de prisão.  A mídia combate até as visitas que os presos recebem.

Não basta que os petistas sejam os primeiros políticos condenados à prisão na história brasileira recente, as penas deles têm que ser tão duras quanto possível. Parece que a mídia quer lhes quebrar o moral – e o da militância – para que deixem de dar declarações políticas.

Dirceu e Genoino poderiam evitar tudo isso simplesmente se calando e se mostrando alquebrados como a mídia exige, mas esses não são homens que baixam a cabeça. Não o fizeram nem quando política rendia torturas físicas e assassinatos. Não o farão agora.



Fonte: http://www.blogdacidadania.com.br/2013/11/voce-esta-assistindo-ao-primeiro-big-brother-penal-da-historia/

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

José Dirceu: “tentativa de julgar nossa luta, da esquerda e do PT”



“Minha condenação foi e é uma tentativa de julgar nossa luta e nossa história, da esquerda e do PT, nossos governos e nosso projeto político.  Esta é a segunda vez em minha vida que pagarei com a prisão por cumprir meu papel no combate por uma sociedade mais justa e fraterna. Fui preso político durante a ditadura militar. Serei preso político de uma democracia sob pressão das elites.”

por Rodrigo Vianna

Com prisão decretada pelo STF – que tem, entre seus integrantes, ministros que já soltaram banqueiros e médicos suspeitos de estupro- , num processo em que foi condenado sem provas, José Dirceu (transformado em “vilão” pelo cerco midiático e pela pressão de uma classe média que jamais aceitou as vitórias de Lula e Dilma) divulgou a seguinte nota ao país:

“O julgamento da AP 470 caminha para o fim como começou: inovando – e violando – garantias individuais asseguradas pela Constituição e pela Convenção Americana dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.
 
A Suprema Corte do meu país mandou fatiar o cumprimento das penas. O julgamento começou sob o signo da exceção e assim permanece. No início, não desmembraram o processo para a primeira instância, violando o direito ao duplo grau de jurisdição, garantia expressa no artigo 8 do Pacto de San Jose. Ficamos nós, os réus, com um suposto foro privilegiado, direito que eu não tinha, o que fez do caso um julgamento de exceção e político.
 
Como sempre, vou cumprir o que manda a Constituição e a lei, mas não sem protestar e denunciar o caráter injusto da condenação que recebi. A pior das injustiças é aquela cometida pela própria Justiça.
 
É público e consta dos autos que fui condenado sem provas. Sou inocente e fui apenado a 10 anos e 10 meses por corrupção ativa e formação de quadrilha – contra a qual ainda cabe recurso – com base na teoria do domínio do fato, aplicada erroneamente pelo STF.
 
Fui condenado sem ato de oficio ou provas, num julgamento transmitido dia e noite pela TV, sob pressão da grande imprensa, que durante esses oito anos me submeteu a um pré-julgamento e linchamento.
 
Ignoraram-se provas categóricas de que não houve qualquer desvio de dinheiro público. Provas que ratificavam que os pagamentos realizados pela Visanet, via Banco do Brasil, tiveram a devida contrapartida em serviços prestados por agência de publicidade contratada.
 
Chancelou-se a acusação de que votos foram comprados em votações parlamentares sem quaisquer evidências concretas, estabelecendo essa interpretação para atos que guardam relação apenas com o pagamento de despesas ou acordos eleitorais.
 
Durante o julgamento inédito que paralisou a Suprema Corte por mais de um ano, a cobertura da imprensa foi estimulada e estimulou votos e condenações, acobertou violações dos direitos e garantais individuais, do direito de defesa e das prerrogativas dos advogados – violadas mais uma vez na sessão de quarta-feira, quando lhes foi negado o contraditório ao pedido da Procuradoria-Geral da República.
 
Não me condenaram pelos meus atos nos quase 50 anos de vida política dedicada integralmente ao Brasil, à democracia e ao povo brasileiro. Nunca fui sequer investigado em minha vida pública, como deputado, como militante social e dirigente político, como profissional e cidadão, como ministro de Estado do governo Lula. Minha condenação foi e é uma tentativa de julgar nossa luta e nossa história, da esquerda e do PT, nossos governos e nosso projeto político.
 
Esta é a segunda vez em minha vida que pagarei com a prisão por cumprir meu papel no combate por uma sociedade mais justa e fraterna. Fui preso político durante a ditadura militar. Serei preso político de uma democracia sob pressão das elites.
 
Mesmo nas piores circunstâncias, minha geração sempre demonstrou que não se verga e não se quebra. Peço aos amigos e companheiros que mantenham a serenidade e a firmeza. O povo brasileiro segue apoiando as mudanças iniciadas pelo presidente Lula e incrementadas pela presidente Dilma.
 
Ainda que preso, permanecerei lutando para provar minha inocência e anular esta sentença espúria, através da revisão criminal e do apelo às cortes internacionais. Não importa que me tenham roubado a liberdade: continuarei a defender por todos os meios ao meu alcance as grandes causas da nossa gente, ao lado do povo brasileiro, combatendo por sua emancipação e soberania.” 



Fonte: http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/dirceu-tentativa-de-julgar-a-esquerda-e-o-pt.html

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Repúdio às prisões ilegais: “O STF precisa reagir para não se tornar refém de seu presidente”






"Significativa parcela da sociedade teme não só pelo destino dos réus, mas também pelo futuro do Estado Democrático de Direito no Brasil"
 
MANIFESTO DE REPÚDIO ÀS PRISÕES ILEGAIS, via e-mail
 
A decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal de mandar prender os réus da Ação Penal 470 no dia da proclamação da República expõe claro açodamento e ilegalidade. Mais uma vez, prevaleceu o objetivo de fazer do julgamento o exemplo no combate à corrupção.
 
Sem qualquer razão meramente defensável, organizou-se um desfile aéreo, custeado com dinheiro público e com forte apelo midiático, para levar todos os réus a Brasília. Não faz sentido transferir para o regime fechado, no presídio da Papuda, réus que deveriam iniciar o cumprimento das penas já no semiaberto em seus estados de origem. Só o desejo pelo espetáculo justifica.
 
Tal medida, tomada monocraticamente pelo ministro relator Joaquim Barbosa, nos causa profunda preocupação e constitui mais um lamentável capítulo de exceção em um julgamento marcado por sérias violações de garantias constitucionais.
 
A imprecisão e a fragilidade jurídica dos mandados expedidos em pleno feriado da República, sem definição do regime prisional a que cada réu teria direito, não condizem com a envergadura da Suprema Corte brasileira.
 
A pressa de Joaquim Barbosa levou ainda a um inaceitável descompasso de informação entre a Vara de Execução Penal do Distrito Federal e a Polícia Federal, responsável pelo cumprimento dos mandados.
 
O presidente do STF fez os pedidos de prisão, mas só expediu as cartas de sentença, que deveriam orientar o juiz responsável pelo cumprimento das penas, 48 horas depois que todos estavam presos. Um flagrante desrespeito à Lei de Execuções Penais que lança dúvidas sobre o preparo ou a boa fé de Joaquim Barbosa na condução do processo.
 
Um erro inadmissível que compromete a imagem e reputação do Supremo Tribunal Federal e já provoca reações da sociedade e meio jurídico. O STF precisa reagir para não se tornar refém de seu presidente.
 
A verdade inegável é que todos foram presos em regime fechado antes do “trânsito em julgado” para todos os crimes a que respondem perante o tribunal. Mesmo os réus que deveriam cumprir pena em regime semiaberto foram encarcerados, com plena restrição de liberdade, sem que o STF justifique a incoerência entre a decisão de fatiar o cumprimento das penas e a situação em que os réus hoje se encontram.
 
Mais que uma violação de garantia, o caso do ex-presidente do PT José Genoino é dramático diante de seu grave estado de saúde. Traduz quanto o apelo por uma solução midiática pode se sobrepor ao bom senso da Justiça e ao respeito à integridade humana.
 
Tais desdobramentos maculam qualquer propósito de fazer da execução penal do julgamento do mensalão o exemplo maior do combate à corrupção. Tornam também temerária a decisão majoritária dos ministros da Corte de fatiar o cumprimento das penas, mandando prender agora mesmo aqueles réus que ainda têm direito a embargos infringentes.
 
Querem encerrar a AP 470 a todo custo, sacrificando o devido processo legal. O julgamento que começou negando aos réus o direito ao duplo grau de jurisdição conheceu neste feriado da República mais um capítulo sombrio.
 
Sugerimos aos ministros da Suprema Corte, que na semana passada permitiram o fatiamento das prisões, que atentem para a gravidade dos fatos dos últimos dias. Não escrevemos em nome dos réus, mas de uma significativa parcela da sociedade que está perplexa com a exploração midiática das prisões e teme não só pelo destino dos réus, mas também pelo futuro do Estado Democrático de Direito no Brasil.
 
19 de Novembro de 2013
 
Juristas e advogados
 
-  Celso Bandeira de Mello - jurista, professor emérito da PUC-SP
 
-  Dalmo de Abreu Dallari - jurista, professor emérito do USP
 
-  Pedro Serrano - advogado, membro da comissão de estudos constitucionais do CFOAB
 
-  Pierpaolo Bottini - advogado
 
-  Marco Aurélio de Carvalho – jurista, professor universitário e secretário do setorial jurídico do PT.
 
-  Antonio Fabrício - presidente da Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas e Diretor Financeiro da OAB/MG
 
-  Bruno Bugareli - advogado e presidente da comissão de estudos constitucionais da OAB-MG
 
-  Felipe Olegário - advogado e professor universitário
 
-  Gabriela Araújo – advogada
 
-  Gabriel Ciríaco Lira – advogado
 
-  Gabriel Ivo - advogado, professor universitário e procurador do Estado.
 
-  Jarbas Vasconcelos – presidente da OAB/P
 
Luiz Guilherme Conci - jurista, professor universitário e presidente coordenação do Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos do CFOAB
 
-  Marcos Meira - advogado
 
-  Rafael Valim - advogado e professor universitário
 
-  Weida Zancaner- jurista e advogada
 
Apoio dos partidos e entidades

-  Rui Falcão - presidente nacional do PT

-  Renato Rabelo – presidente nacional do PCdoB

-  Vagner Freitas – presidente nacional da CUT

-  Adílson Araújo – presidente nacional da CTB

-  João Pedro Stédile – membro da direção nacional do MST

-  Ricardo Gebrim – membro da Consulta Popular

-  Wellington Dias - senador, líder do PT no Senado e membro do Diretório Nacional – PT/PI

-  José Guimarães - deputado federal, líder do PT na Câmara e secretário nacional do PT

-  Alberto Cantalice - vice-presidente nacional do PT

-  Humberto Costa – senador e vice-presidente nacional do PT

-  Maria de Fátima Bezerra - vice-presidente nacional do PT, deputada federal PT/RN

-  Emídio de Souza - ex-prefeito de Osasco e presidente eleito do PT/SP

-  Carlos Henrique Árabe – secretário nacional de formação do PT

-  Florisvaldo Raimundo de Souza - secretário nacional de organização do PT

-  Francisco Rocha – Rochinha – dirigente nacional do PT

-  Jefferson Lima - secretário nacional da juventude do PT

-  João Vaccari Neto - secretário nacional de finanças do PT

-  Laisy Moriére – secretária nacional de mulheres PT

-  Paulo Frateschi - secretário nacional de comunicação do PT

-  Renato Simões - secretário de movimentos populares do PT
 
-  Adriano Diogo – deputado estadual PT/SP e presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALESP

-  Alfredo Alves Cavalcante – Alfredinho – vereador de São Paulo – PT/SP

-  André Tokarski – presidente nacional da UJS

-  André Tredezini – ex-presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto

-  Arlete Sampaio - comissão executiva nacional do PT e deputada distrital do DF

-  Alexandre Luís César - deputado estadual/MT e membro do diretório nacional do PT/MT

-  Antonio Rangel dos Santos - membro do diretório nacional PT/RJ

-  Artur Henrique - ex-presidente da CUT e diretor da Fundação Perseu Abramo – PT

-  Benedita da Silva - comissão executiva nacional e deputada federal PT/RJ

-  Bruno Elias - PT/SP

-  Carlos Magno Ribeiro - membro do diretório nacional do PT/MG

-  Carlos Veras –presidente da CUT/PE

-  Carmen da Silva Ferreira – liderança do MSTC (Movimento Sem Teto do Centro)/FLM (Frente de Luta por Moradia)

-  Catia Cristina Silva – secretária municipal de Combate ao Racismo – PT/SP

-  Dirceu Dresch - deputado estadual/SC

-  Doralice Nascimento de Souza - vice-governadora do Amapá

-  Edson Santos - deputado federal – PT/RJ

-  Elói Pietá - membro do diretório nacional – PT/SP

-  Enildo Arantes – vice-prefeito de Olinda/PE

-  Erik Bouzan – presidente municipal de Juventude – PT/SP

-  Estela Almagro - membro do diretório nacional PT/SP e vice-prefeita de Bauru

-  Fátima Nunes - membro do diretório nacional – PT/BA

-  Fernanda Carisio - executiva do PT/RJ

-  Frederico Haddad – estudante de Direito/USP e membro do Coletivo Graúna

-  Geraldo Magela - membro do diretório nacional – PT/DF

-  Geraldo Vitor de Abreu - membro do diretório nacional – PT

-  Gleber Naime – membro do diretório nacional – PT/MG

-  Gustavo Tatto – presidente eleito do Diretório Zonal do PT da Capela do Socorro

-  Humberto de Jesus – secretário de assistência social, cidadania e direitos humanos de Olinda/PE

-  Ilário Marques - PT/CE

-  Iole Ilíada - membro do diretório nacional – PT/SP

-  Irene dos Santos - PT/SP

-  Joaquim Cartaxo - membro do diretório nacional – PT/CE e vice-presidente do PT no Ceará

-  João Batista - presidente do PT/PA

-  Joao Guilherme Vargas Netto - consultor sindical

-  João Paulo Lima – ex-prefeito de Recife e deputado federal PT/PE

-  Joel Banha Picanço - deputado estadual/AP

-  Jonas Paulo - presidente do PT/BA

-  José Reudson de Souza - membro do diretório nacional do PT/CE

-  Juçara Dutra Vieira - membro do diretório nacional – PT

-  Juliana Cardoso - presidente municipal do PT/SP

-  Juliana Borges da Silva – secretária municipal de Mulheres PT/SP e membro do Coletivo Graúna

-  Laio Correia Morais – estudante de Direito/PUC-SP e membro do Coletivo Graúna

-  Lenildo Morais - vice-prefeito de Patos/PB

-  Luci Choinacki – deputada federal PT/SC

-  Luciana Mandelli - membro da Fundação Perseu Abramo – PT/BA

-  Luís César Bueno - deputado estadual/GO e presidente do PT de Goiânia

-  Luizianne Lins – ex-prefeita de Fortaleza e membro do diretório nacional do PT/CE

-  Maia Franklin – ex-presidenta do Centro Acadêmico XI de Agosto

-  Marcelo Santa Cruz – vereador de Olinda/PE

-  Márcio Jardim - membro da comissão executiva estadual do PT/MA

-  Márcio Pochmann – presidente da Fundação Perseu Abramo

-  Margarida Salomão - deputada federal – PT/MG

-  Maria Aparecida de Jesus - membro da comissão executiva nacional – PT/MG

-  Maria do Carmo Lara Perpétuo - comissão executiva nacional do PT

-  Maria Rocha – vice-presidenta do diretório municipal PT/SP

-  Marinete Merss - membro do diretório nacional – PT/SC

-  Markus Sokol – membro do diretório nacional do PT/SP

-  Marquinho Oliveira - membro do diretório nacional PT/PA

-  Mirian Lúcia Hoffmann - PT/SC

-  Misa Boito - membro do diretório estadual – PT/SP

-  Nabil Bonduki – vereador de São Paulo/SP – PT/SP

-  Neyde Aparecida da Silva - membro do diretório nacional do PT/GO

-  Oswaldo Dias - ex-prefeito de Mauá e membro do diretório nacional – PT/SP

-  Pedro Eugenio – deputado federal PT/PE

-  Rachel Marques - deputada estadual/CE

-  Raimundo Luís de Sousa – PT/SP

-  Raul Pont - membro do diretório nacional PT/RS e deputado estadual/RS

-  Rogério Cruz – secretário estadual de Juventude – PT/SP

-  Romênio Pereira - membro do diretório nacional – PT/MG

-  Rosana Ramos - PT/SP

-  Selma Rocha - diretora da Escola Nacional de Formação do PT

-  Silbene Santana de Oliveira - PT/MT

-  Sônia Braga - comissão executiva nacional do PT, ex-presidente do PT no Ceará

-  Tiago Soares - PT/SP

-  Valter Pomar – membro do Diretório Nacional do PT/SP

-  Vilson Oliveira - membro do diretório nacional – PT/SP

-  Virgílio Guimarães - membro do diretório nacional – PT/MG

-  Vivian Farias – secretária de comunicação PT/PE

-  Willian César Sampaio - presidente estadual do PT/MT

-  Zeca Dirceu – deputado federal PT/PR

-  Zezéu Ribeiro – deputado estadual do PT/BA
 
Apoios da sociedade civil

-  Rioco Kayano

-  Miruna Genoíno

-  Ronan Genoino

-  Mariana Genoíno

-  Altamiro Borges – jornalista

-  Andrea do Rocio Caldas – diretora do setor de educação/UFPR

-  Emir Sader – sociólogo e professor universitário/UERJ

-  Eric Nepomuceno – escritor

-  Fernando Morais – escritor

-  Fernando Nogueira da Costa – economista e professor universitário

-  Galeno Amorim – escritor e gestor cultural

-  Glauber Piva – sociólogo e ex-diretor da Ancine

-  Gegê – vice-presidente nacional da CMP (Central de Movimentos Populares)

-  Giuseppe Cocco – professor universitário/UFRJ

-  Henrique Cairus – professor universitário/UFRJ

-  Hildegard Angel - jornalista

-  Ivana Bentes – professora universitária/UFRJ

-  Izaías Almada – filósofo

-  João Sicsú – economista e professor universitário/UFRJ

-  José do Nascimento Júnior – antropólogo e gestor cultural

-  Laurindo Lalo Leal Filho – jornalista e professor universitário

-  Luiz Carlos Barreto – cineasta

-  Lucy Barreto – produtora cultural

-  Maria Victória de Mesquita Benevides – socióloga e professora universitária/USP

-  Marilena Chauí – filósofa e professora universitária/USP

-  Tatiana Ribeiro – professora universitária/UFRJ

-  Venício de Lima – jornalista e professor universitário/UNB

-  Xico Chaves – artista plástico

-  Wanderley Guilherme dos Santos – professor titular de teoria política (aposentado da UFRJ)



Fonte:  http://www.viomundo.com.br/politica/repudio-as-prisoes-ilegais.html