sábado, 18 de maio de 2013

Cerco contra Maduro

Jornal do Brasil

Mauro Santayana



A oposição venezuelana tem todo o direito de lutar pelo poder. É natural e desejável que haja alternância de homens e de ideias no exercício dos governos. Cabe a Capriles, que esteve tão próximo da vitória, e a seus seguidores, esperar o próximo pleito e disputar a Presidência dentro das regras vigentes. Nada a estranhar, em um regime democrático, como o da Venezuela, que, sob observação internacional, vem realizando eleições periódicas. É provável que ele vença a disputa; menos provável é que os venezuelanos aceitem voltar ao que viveram antes de Chávez.

Há, no entanto, sinais de que setores da oposição querem aproveitar-se das dificuldades conjunturais do país, a fim de desestabilizar o governo e criar crise social e política de tal gravidade que conduza a um golpe. Tendo em vista exemplos históricos, uma das manobras mais usuais é a de grandes atacadistas e supermercados sonegarem alimentos e artigos de consumo obrigatório, o que causa desassossego e a irritação dos mais pobres. Dos mais pobres, porque, em qualquer situação, os ricos não têm problemas. Quando lhes falta o mercado negro, não lhes falta a possibilidade de abastecer-se diretamente no exterior. Se não houver sardinhas, contentam-se com caviar. Provocar os pobres, ao pôr a culpa no governo, é o que deseja a oposição.

 
O enredo é o mesmo. A falta de mercadorias de maior consumo popular, ainda que em áreas isoladas, é logo explorada pelos meios de comunicação, principalmente o rádio e a televisão. Foi assim que ocorreu no Chile, nisso um modelo continental, no golpe preparado pela CIA e executado por Pinochet, em 1973.

A população, alarmada pela falta de uma ou outra mercadoria, procura cautelar-se, buscando comprar tudo o que pode, a fim de não deixar que falte comida em casa. Assim, o agravamento da situação leva o país ao pânico. Nesse momento, os “salvadores”, que dispõem da força das armas, aparecem, para restabelecer a ordem, impondo o regime de força.

É interessante registrar como alguns programas brasileiros de televisão, em frases de chulo duplo sentido, se referiram a um produto específico, que está faltando em Caracas, o papel higiênico. É uma notória “torcida” para que a situação se deteriore no país vizinho e amigo.

O presidente Nicolas Maduro, que não dispõe do mesmo carisma de seu antecessor, está buscando obter a solidariedade continental, a fim de fazer frente à emergência. Pelo que se informa, o Brasil e a Argentina estão tomando providências para a exportação emergencial de alimentos e outros produtos de consumo obrigatório para o país vizinho.

O presidente da Venezuela, em atitude moderadora, conversou pessoalmente com o mais importante empresário do setor alimentício de seu país, buscando uma forma de evitar a crise. Os empresários brasileiros, que têm realizado negócios com a Venezuela, com bons resultados bilaterais, naturalmente apoiam o nosso governo no atendimento ao apelo de Maduro.

Se, em 1973, os países vizinhos tivessem ajudado o Chile de Allende, talvez a tragédia fosse evitada. Mas, naquele ano, quase todo o continente se encontrava sob regimes militares, que preferiam acabar com a experiência de um sistema popular de governo na América do Sul, também apoiado pelo povo em eleições livres — como a que ocorreu em março, seis meses antes do golpe.

Hoje, a situação é outra — e nisso devem pensar os partidários de Capriles. 



Fonte: http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2013/05/17/cerco-contra-maduro/

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